quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Hominídeo 'Ardi' é a descoberta científica mais importante de 2009

Qui, 17 Dez, 06h34 (br.noticias.yahoo.com/s/afp/)




WASHINGTON (AFP) - Ardi, o esqueleto de hominídeo mais antigo já encontrado até hoje, com 4,4 milhões de anos, foi a descoberta científica mais importante de 2009, estimou nesta quinta-feira a prestigiada revista Science.

O fóssil lidera a lista dos 10 maiores avanços científicos do ano segundo a Science, que também inclui a descoberta de água na Lua e o uso de folhas de átomos de carbono ultrafinas em aparelhos eletrônicos experimentais.

Ardi, um Ardipithecus ramidus, foi objeto de 15 anos de estudo minucioso por antropólogos. O esqueleto, encontrado na Etiópia, deu início a uma nova etapa na pesquisa da evolução do homem, segundo os cientistas.

Sendo 1,2 milhão de anos mais velho que "Lucy", até então o fóssil de hominídeo mais antigo já encontrado, Ardi está ajudando a derrubar mitos populares sobre a relação direta entre o ser humano e os símios modernos.

A análise do crânio, dos dentes, da pélvis, das mãos, dos pés e de outros ossos de Ardi mostraram que os símios africanos evoluíram consideravelmente desde o momento em que compartilharam um ancestral comum com os humanos.

"(Ardi) muda a maneira de pensarmos sobre a evolução humana mais antiga", indicou Bruce Alberts, editor da Science.

Entre as outras descobertas destacadas pela revista estão os pulsares, vistos pela primeira vez pelo telescópio Fermi, da Nasa. Um deles foi localizado a 4.600 anos-luz da Terra.

As observações ajudaram a explicar como funciona um pulsar - o centro de uma estrela de nêutrons, caracterizado pela emissão, a intervalos regulares e curtos, de radiação muito intensa -, e como ele contribui para a radiação eletromagnética no universo.

A astrofísica foi fonte de outras dois dos 10 maiores avanços científicos do ano segundo a Science, o que inclui a descoberta de água gelada na Lua pela Nasa.

Em outubro, a agência espacial americana enviou duas sondas para que se chocassem contra a superfície lunar, em uma experiência dramática em busca de água. Uma delas caiu na cratera Cabeus, perto do pólo sul lunar, a 9.000 quilômetros por hora; a outra teve o mesmo destino quatro minutos depois, esta equipada com câmeras e sensores para registrar o impacto e o que resultaria dele.

A Nasa foi especialmente elogiada pela revista científica pelos reparos realizados por astronautas no telescópio espacial Hubble, que desde seu lançamento, em 1990, registra imagens sem precedentes do universo.

Entre os "temas quentes" a serem acompanhados em 2010, a Science menciona o metabolismo das células cancerosas, o sequenciamento do exoma - genes que representam 1% do patrimônio genético, mas que controlam as funções vitais do organismo - e o futuro dos voos tripulados ao espaço.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Resumo das teorias que envolvem as origens

Um bom resumo das teorias que envolvem as origens é encontrada no link a seguir:

http://www.simbiotica.org/teorias.htm

Rio Grande do Sul: berço dos mamíferos?

Publicado em 15/12/2009 | Atualizado em 15/12/2009 (cienciahoje.uol.com.br/colunas/)
 
Novos achados de fósseis no Brasil estão revolucionando o estudo sobre os passos evolutivos que levaram ao surgimento dos primeiros animais desse grupo, como mostra Alexander Kellner em sua coluna de dezembro. 
 
Por: Alexander Kellner 


 
Um dos mais apaixonados debates dentro da paleontologia está vinculado ao surgimento e à evolução dos mamíferos. Ainda existe muita discussão e indefinição acerca de como eram os protomamíferos, ou seja, as espécies que antecederam os ‘vertebrados peludos’. Achados recentes feitos no Brasil por pesquisadores argentinos e brasileiros têm jogado ‘mais lenha na fogueira’ e mudado a perspectiva dos estudos sobre o tema realizados até agora.
 

Como se define um mamífero?


Para situar o problema, precisamos primeiramente perguntar: como se caracteriza um mamífero? Relembrando um pouco do que aprendemos na escola, os mamíferos se distinguem dos demais vertebrados, como os répteis, por possuírem pelos, encéfalo desenvolvido e glândulas mamárias (onde é produzido o leite com o qual alimentam seus filhotes). Sem contar com o coração de quatro cavidades, conforme observado pelo cientista sueco Carolus Linnaeus (1707-1778) quando, em 1758, propôs a classe Mammalia.

Até que essa primeira parte foi fácil. Vamos tentar então usar essas características para os mamíferos fósseis... Agora complicou, pois todas as feições listadas acima estão no dito ‘tecido mole’ e não se preservam nos ossos encontrados nas camadas de sedimentos.

Com esse problema na mão, os paleontólogos começaram a procurar características nos ossos que pudessem diferenciar os mamíferos dos não-mamíferos. Chegaram a propor algumas, como a articulação entre mandíbula e crânio feita por uma parte expandida do osso dentário que se encaixa em uma depressão de um pequeno osso da lateral do crânio chamado esquamosal. Essa articulação é completamente distinta da observada nos répteis, por exemplo.

Também foram levantados como feições tipicamente de mamíferos a presença de três ossículos no ouvido médio – o malleus (bigorna), incus (martelo) e o estribo – e os dentes pós-caninos com as raízes divididas.
Estava tudo bem até o momento em que fósseis com algumas dessas características, mas não todas, foram descobertos. Onde classificar essas novas formas?

Na tentativa de organizar um pouco a questão da classificação dos mamíferos, uma linha de pensamento – hoje majoritária – na paleontologia propõe que a classe Mammalia seja definida como o grupo formado pelo ancestral comum dos monotremos, marsupiais e placentários (os três grandes grupos de mamíferos existentes atualmente) e todos os seus descendentes.

Assim, todas as demais formas fósseis que não fazem parte desse grupo, mas estão proximamente relacionadas aos mamíferos, passam a integrar o agrupamento denominado Mammaliaformes. A questão, agora, passa a ser: qual dos grupos basais de Mammaliaformes estaria mais proximamente relacionado aos mamíferos? A resposta para essa pergunta está vindo de depósitos do Brasil, mas especificamente do Rio Grande do Sul.



Novas espécies brasileiras

Ao repousar no terreno durante uma atividade de campo em 2000, o pesquisador argentino José Bonaparte – Bona, para os colegas – não imaginava que iria fazer uma das principais descobertas do início deste século para a paleontologia do Brasil. A equipe estava coletando fósseis nos depósitos chamados de Formação Caturrita (RS), cuja idade varia em torno de 220 milhões de anos. Junto com colegas da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, Bona encontrou pequenos ossos esbranquiçados no meio da rocha avermelhada.

Escavações realizadas nos anos seguintes – que incluíram também pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) – revelaram uma grande quantidade desses ‘pequenos animais’, hoje classificados em quatro novas espécies: Riograndia guaibensis e Irajatherium hernadezi, ambas do clado Tritheledontidae (considerado por alguns como o mais próximo de Mammalia); e Brasilodon quadrangularis e Brasilitherium riograndensis, classificados no grupo Brasilodontidae. Todos são de pequeno tamanho, feição comum dos primeiros protomamíferos.

O primeiro a ser descrito foi Riograndia guaibensis, que é a forma mais comumente encontrada nos depósitos. De crânio curto, essa espécie se destaca pela confluência da órbita e da fenestra (abertura) temporal – devido à perda da barra óssea que separava essas duas aberturas – e pela dentição composta por três dentes incisivos na arcada inferior, todos procumbentes (voltados para frente e para fora), e dentes pós-caninos espatulados, que já apresentam um início de bifurcação de suas raízes – característica comum dos mamíferos.

O Irajatherium é uma forma mais rara. Conhecida apenas por um úmero, um fêmur, duas mandíbulas e uma arcada superior incompleta, essa espécie possui os dentes pós-caninos superiores comprimidos transversalmente e os pós-caninos inferiores com uma cúspide (elevação) central mais desenvolvida, seguida de três menores.

Sem dúvida, os achados mais interessantes no momento são Brasilodon e Brasilitherium, todos conhecidos por uma espécie apenas. O Brasilodon tem um crânio relativamente baixo, com a caixa craniana bem expandida. O Brasilitherium exibe uma série de ossos fusionados na caixa craniana, o que é considerado uma característica mais derivada dentro da evolução desses protomamíferos.

Além de uma dentição bem semelhante à dos primeiros mamíferos (como Morganucodon), essas duas formas compartilham outras características com os animais desse grupo, incluindo a articulação da arcada inferior com o crânio. Por essas e outras, os pesquisadores argentinos e brasileiros defendem que o grupo Brasilodontidae – e não o Tritheledontidae – reúne as formas mais proximamente aparentadas aos mamíferos.



Infelizmente até o momento não foram descritas detalhadamente outras partes do esqueleto desses protomamíferos gaúchos, o que poderia trazer mais informações sobre os passos evolutivos dados por esses animais até o surgimento dos primeiros mamíferos.

Se os pesquisadores argentinos e brasileiros estiverem corretos e o grupo Brasilodontidae for mesmo o mais proximamente relacionado à classe Mammalia, podemos imaginar que talvez os primeiros mamíferos estejam nessas rochas do Rio Grande do Sul. Candidatos já existem. Agora é esperar a continuação das pesquisas.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

O Jogo da Evolução

edição 73 - Junho 2008 (www2.uol.com.br/sciam/)


Dispositivos do DNA que decidem quando e onde os genes são ativados permitem aos genomas gerar a grande diversidade de formas animais a partir de um conjunto muito semelhante de genes

por Sean B. Carroll, Benjamin Prud’homme e Nicolas Gompel


Sean B. Carroll, Benjamin Prud’homme e Nicolas Gompel trabalharam juntos por muitos anos para decifrar como a evolução de seqüências regulatórias de DNA define a morfologia animal. Carroll é pesquisador do Howard Hughes Medical Institute, professor de biologia molecular da University of Wisconsin – Madison e autor de dois livros populares sobre evolução. Prud’homme e Gompel, ambos ex-alunos de pós-doutorado do laboratório de Carroll, agora estudam a evolução de formas e comportamento animal em seu próprio laboratório na França, no Instituto de Biologia do Desenvolvimento de Marselha Luminy.



À primeira vista esta lista de animais poderia ser a de um zoológico qualquer. Há um elefante, um tatu, um gambá, um golfinho, uma preguiça, um porco-espinho, morcegos grandes e pequenos, musaranhos, alguns peixes, um macaco Rhesus, um orangotango, um chimpanzé e um gorila – para citar algumas das criaturas mais conhecidas. Mas esse zoológico não é nada como os outros já existentes. É um zoológico “virtual” que contém apenas as seqüências de DNA desses animais – as centenas de milhões a bilhões de letras do código do DNA que compõem a receita genética de cada espécie.

Os visitantes mais animados desse novo zoológico molecular são os biólogos evolucionistas, já que podem contar com um registro extenso e detalhado da evolução. Há muitas décadas, cientistas tentam entender como a grande diversidade de espécies surgiu. Já sabemos há meio século que as mudanças em características físicas, da cor do corpo ao tamanho do cérebro, vêm de mudanças no DNA. No entanto, até recentemente, determinar precisamente quais mudanças nas vastas seqüências de DNA foram responsáveis por conferir a cada animal sua aparência única estava fora de alcance.

Agora, os biólogos estão decifrando os registros de DNA para localizar as instruções que fazem as diversas espécies ser tão diferentes umas das outras e nos tornam diferentes dos chimpanzés. Essa empreitada levou a uma grande mudança em nossa perspectiva. Durante grande parte dos últimos 40 anos, os pesquisadores dedicaram a maior parte de sua atenção aos genes – seqüências de nucleotídeos no DNA que codificam as cadeias de aminoácidos, que formam as proteínas. Mas, para nossa surpresa, as diferenças nas aparências acabaram por ser enganosas: animais muito diferentes possuem conjuntos de genes muito semelhantes. As trilhas da evolução estão agora nos levando a dispositivos dentro do DNA que ativam e desativam a expressão gênica, que não codificam nenhuma proteína, mas controlam quando e como os genes são usados. Alterações nesses dispositivos são cruciais para a evolução da anatomia e fornecem novas visões de como a aparentemente interminável variedade de formas do reino animal evoluiu.

O fim da evolução humana

edição 51 - Agosto 2006 (www2.uol.com.br/sciam/)

A história evolutiva da espécie humana, com sua vasta galeria de antepassados, pode estar chegando ao fim.





por Ian Tattersall

QUEM É
Ian Tattersall nasceu na Inglaterra em 1945 e cresceu na África oriental.
Estudou arqueologia e antropologia na Universidade de Cambridge e geologia e paleontologia de vertebrados na Universidade Yale, onde obteve, em 1971, o doutorado em geologia e geofísica.
Publicou mais de 200 artigos científicos e diversos livros de divulgação, entre eles Becoming human: evolution and human uniqueness (1999) e The human odyssey: four million years of human evolution (2001).
Coordena a Divisão de Antropologia do Museu Americano de História Natural de Nova York.


Para o paleoantropólogo britânico Ian Tattersall, a história evolutiva da espécie humana, com sua vasta galeria de antepassados, pode estar chegando ao fim


Por Giovanni Spataro



A evolução humana é hoje um dos principais temas dos debates científicos. Novas descobertas estão desafiando conhecimentos estabelecidos. Considere, por exemplo, o hominídeo de Flores - um verdadeiro ponto de interrogação em nossa história evolutiva. Mas o mérito cabe também a cientistas como Ian Tattersall, autoridade no campo da paleoantropologia e entusiasmado divulgador da evolução e de tudo que gira em torno do tema. Prova disso é o que aconteceu no Teatro Palladium, em Roma. Depois de uma hora de entrevista para a Radio 3 Scienza, Tattersall conversou com os estudantes que assistiram ao programa. Rodeado por jovens cheios de perguntas, divertiu-se com tanta curiosidade e ímpeto e não economizou nas respostas.

Scientific American: A paleoantropologia costuma ser considerada uma ciência estática, um campo de pesquisa em que é difícil fazer descobertas. Isso corresponde à situação atual?

Ian Tattersall: Jamais houve um período tão empolgante na paleontologia humana como o que vivemos hoje. Não só dispomos de mais fósseis do que antigamente como temos novas técnicas para analisar os dados.

Sciam: As fontes de informação são muito diversas, vão desde a genética até a anatomia. Como usar os dados disponíveis?

Tattersall: É justamente esse o desafio. Há estudos que fornecem vários tipos de informação, e o problema futuro será integrá-los. As hipóteses evolutivas baseadas em dados morfológicos não estão de acordo com as baseadas em dados genéticos, ainda que, em geral, as informações provenientes dos dois campos - a paleoantropologia física e a genética - tendam a se reforçar mutuamente.

Sciam: Com dados mais bem integrados, é possível que o número de antepassados humanos diminua? Particularmente a espécie dos hominídeos?

Tattersall: Não creio. A tendência geral é reconhecer não só mais espécies, mas também mais gêneros. Somos hoje a única espécie de hominídeos na Terra e projetamos essa situação para o passado. Mas com as diferentes técnicas e o número cada vez maior de fósseis disponíveis, descobrimos que existe - e existia no passado - uma grande diversidade. Em suma, a história da espécie humana é marcada pela luta contínua entre diversas espécies de hominídeos. Há muitas hipóteses a respeito de quantas espécies teriam existido. Minha opinião é de cerca de 20 nos últimos 6 milhões de anos.

Sciam: O Homo floresiensis faz parte desse grupo? Ainda se debate se devemos ou não considerá-lo nosso antepassado.

Tattersall: Não creio que alguém defenda que o hominídeo de Flores deva ser catalogado entre nossos antepassados. Na gruta onde foi descoberto o crânio do primeiro H. floresiensis foi encontrado recentemente o maxilar de um segundo indivíduo da mesma espécie. Isso nos leva a pensar que se trata, provavelmente, de uma população local com alguma doença A única alternativa é considerar que o hominídeo de Flores seja o representante de uma espécie que não conhecíamos, mas não há razões convincentes para incluí-lo no gênero Homo. Mas se for, de fato, uma espécie de hominídeo, sua ligação conosco é extremamente remota. Nesse caso, o hominídeo de Flores representaria um dos descendentes dos primeiros hominídeos que emigraram da África, em vez de uma forma degenerada de Homo erectus, como se acreditou logo após sua descoberta.

Sciam: Falemos do presente. As pesquisas em paleontologia são úteis para cientistas sociais e estudiosos que criticam outras abordagens da evolução social de nossa espécie? Refiro-me à sociobiologia, segundo a qual há uma relação direta entre genes e comportamento.

Tattersall: A sociobiologia é uma abordagem válida quando aplicada a sistemas como os insetos sociais, mas não funciona no caso de realidades muito complexas do ponto de vista cognitivo, como o Homo sapiens. Além disso, a sociobiologia implica uma visão dos processos evolutivos estreitamente ligada à seleção natural, e não creio que sua influência seja tão grande quanto a que lhe costumam atribuir. Se levarmos em conta uma característica por vez, por exemplo a expansão do volume do cérebro, então é possível pensar que a seleção tenha um papel no processo evolutivo. Mas os genomas são estruturas extremamente complexas, e a única coisa que a seleção natural pode fazer é determinar o êxito de um indivíduo, não o tamanho de seu cérebro.

Sciam: Nos últimos anos foram publicadas diversas pesquisas que evidenciam mutações recentes e seleção dos genes que compõem o DNA humano. Nossa espécie ainda está evoluindo?

Tattersall: Se considerarmos os genes isoladamente, a resposta é afirmativa: podemos registrar mudanças no patrimônio genético humano. Mas não creio que sejam mudanças importantes do ponto de vista evolutivo. Trata-se de flutuações que surgem ciclicamente em todas as espécies. Para ser verdadeiramente nova, uma mutação deve ocorrer em populações formadas por poucos indivíduos. Do ponto de vista genético, apenas as populações pequenas são suficientemente instáveis para originar alguma característica evolutiva nova. Hoje a população humana está muito interconectada, e é cada vez mais fácil os indivíduos se deslocarem. Estão ausentes as condições necessárias para o surgimento de mudanças significativas do ponto de vista evolutivo.

Sciam: Isso quer dizer que a globalização prejudica a evolução da espécie humana?

Tattersall: A globalização é um processo de modernização, mas certamente não encoraja a inovação evolutiva.

Sciam: E para outras espécies, é possível observar sua evolução e estudá-la com novos meios?

Tattersall: Teoricamente sim. Ao se tornar uma espécie cada vez mais difusa em todas as partes do planeta, o Homo sapiens está fragmentando o hábitat de outros seres vivos. Assim, está criando as condições para inovações evolutivas. Possivelmente presenciaremos a evolução de outras espécies no futuro. Se esses fenômenos vão ocorrer ou não em escala temporal que permita a observação

Navalha de Occam



 

http://brazil.skepdic.com/occam.html

"Pluralitas non est ponenda sine neccesitate" ou "pluralidade não deve ser colocada sem necessidade." As palavras são de um filósofo inglês medieval e monge Franciscano, William of Ockham (ca. 1285-1349). Como muitos Franciscanos, William era um minimalista na sua vida, idealizando uma vida de pobreza, e como S. Francisco, batendo-se com o Papa a esse propósito. William foi excomungado pelo Papa João XXII. Respondeu escrevendo um tratado demonstrando que o Papa era um herético.
O que é conhecido como navalha de Occam era um principio comum na filosofia medieval e não foi originado por William of Ockham mas devido ao seu frequente uso do principio, o seu nome ficou indelevelmente ligado a ele. É pouco provável que William apreciasse o que alguns de nós fizeram com o seu nome. Por exemplo, ateistas muitas vezes aplicam a navalha de Occam argumentando contra a existência de Deus na base de que Deus é uma hipótese desnecessária. Podemos explicar tudo sem assumir o peso metafisico extra de um Ser Divino.
O uso por William do principio da pluralidade desnecessária ocorre em debates sobre o equivalente medieval do psi. Por exemplo, no Livro II dos seus Commentary on the Sentences de Pedro Abelardo, ele debruça-se sobre a questão de saber se "Um Anjo mais Elevado sabe graças a menos espécies que um Inferior." Usando o principio de que a "pluralidade não deve ser colocada sem necessidade" ele argumenta que a resposta é afirmativa. Tambem cita Aristoteles quando afirma que "quanto mais perfeita uma natureza, menos meios necessita para a sua operação." Este principio tem sido usado por ateistas para rejeitar a hipótese de um Deus-Criador a favor da evolução natural: se um Deus Perfeito tivesse criado o Universo, quer o Universo quer as suas partes seriam mais simples. William não teria apreciado. Contudo, argumentou que a teologia natural é impossivel. Teologia natural usa a razão para compreender Deus, em contraste com a teologia revelada que se baseia nas revelações das escrituras. De acordo com William of Ockham, a ideia de Deus não é estabelecida por evidências experimentais ou de raciocínio. Tudo o que sabemos de Deus é-nos dado pela revelação. Os fundamentos de toda a teologia é, portanto a fé. Deve-se notar que enquanto uns usaram a navalha para eliminar todo o mundo espiritual, Ockham não aplicou o principio da parcimónia aos artigos da fé. Tivesse-o feito, poderia tornar-se um Sociniano como John Toland (Christianity not Mysterious, 1696) e reduzido a Trindade a uma Unidade e a natureza dual de Cristo a uma.
William foi uma espécie de minimalista em filosofia, advogando nominalismo contra a visão mais popular do realismo. Ou seja, argumentou que os universais não têm existência foram da mente; universais são apenas nomes que usamos para referir grupos de individuos e as propriedades de individuos. Os realistas afirmam que não só há objectos individuais e os nossos conceitos desses objectos, tambem há universais. Ockham pensava que eram demasiadas pluralidades. Não necessitamos de universais para explicar qualquer coisa. Para nominalistas e realistas existe Sócrates o individuo e o nosso conceito de Sócrates. Para os realistas existem tambem realidades como a humanidade de Sócrates, a animalidade de Sócrates, etc. Ou seja, qualquer qualidade que possamos atribuir a Sócrates tem uma correspondente "realidade", um "universal" ou eidos, como Platão chamou a tais seres. William pode ser considerado céptico em relação a estes universais. Não são necessários para a lógica, a epistemologia ou metafisica, portanto para quê assumir esta pluralidade desnecessária? Platão e os realistas podiam ter razão. Talvez haja um eidos, de realidades universais que sejam eternos, imutáveis modelos para objectos individuais. Mas não necessitamos de postular tal para explicarmos individuos, os nossos conceitos ou o nosso conhecimento. O Eidos de Platão (Formas) são um peso metafisico e epistemológico desnecessário.
Pode ser argumentado que o Bispo George Berkeley aplicou a navalha de Occam para eliminar a substância material como uma pluralidade desnecessária. Apenas precisamos da nossa mente e das nossas ideias para explicar tudo. Contudo, Berkeley era um pouco selectivo no seu uso da navalha. Lembrem-se, ele precisou de postular Deus como a Mente que ouve a árvore cair na floresta quando ninguem está presente. Os Idealistas Subjectivos podem usar a navalha para se livrarem de Deus. Tudo pode ser explicado pelas nossas mentes e ideias. Claro que isto leva ao solipsismo, a ideia que só eu e as minhas ideias existem, ou pelo menos é tudo o que sei que existe. Os Materialistas, por outro lado, usam a navalha para eliminar a mente. Não necessitamos de postular uma pluralidade de mentes E uma pluralidade de cérebros.
A navalha de Occam é tambem chamada o principio da parcimónia. Hoje em dia é interpretada como "a explicação mais simples é a melhor" ou "não multiplique hipóteses desnecessariamente." Em qualquer caso, a navalha de Occam é o principio que é frequentemente usado fora da ontologia, isto é, por filósofos da ciência num esforço de estabelecer critérios para escolher entre várias teorias com igual valor explicatório. Quando dando razões explicativas para algo, não postule mais que o necessário. Von Daniken podia estar certo: talvez extraterrestres tenham ensinado antigos povos na arte e na engenharia, mas não precisamos de postular visitantes extraterrestres para explicar os feitos desses povos. Porquê postular pluralidades desnecessariamente? Ou, como diriamos hoje, não faça mais assunções do que precisa. Podemos postular o éter para explicar acção à distância, mas não precisamos do éter para o explicar, portanto para quê assumir um etéreo éter?
Pode-se dizer que Oliver W. Holmes e Jerome Frank aplicaram a navalha de Occam ao afirmarem que não existe uma coisa chamada "Lei". Há apenas decisões judiciais, julgamentos individuais e a soma deles fazem a lei. Para confundir mais a questão, estes iminentes juristas chamaram ao seu ponto de vista realismo legal, em vez de nominalismo legal. Lá se vai a simplicidade.
Porque a navalha de Occam é algumas vezes chamado o principio da simplicidade algumas mentes criacionistas argumentaram que ela podia ser usada para apoiar o criacionismo sobre a evolução. Ter Deus a criar tudo é muito mais simples que a evolução, que é um mecanismo muito mais complexo. Mas Occam não diz que quanto mais simplória a hipótese, melhor. Alguns até usaram a navalha de Occam para justificar cortes orçamentais, argumentando que "o que pode ser feito com menos é feito em vão com mais." Esta aproximação parece aplicar a navalha de Occam ao próprio principio, eliminando a palavra "hipótese". Occam estava preocupado com menos hipóteses, não com menos dinheiro.
O principio original parece ter sido invocado num contexto de uma crença na noção de que a perfeição é a própria simplicidade. Isto é um principio metafisico que partilhamos com os medievais e os gregos antigos. Pois, como eles, a maior parte das nossas disputas não são acerca do principio mas do que conta como necessário. Para os materialistas, os dualistas multiplicam pluralidades desnecessariamente. Para os dualistas, postular uma mente bem como um corpo, é necessário. Para os ateistas, postular Deus e algo sobrenatural é uma pluralidade desnecessária. Para os teistas, postular Deus é uma necessidade. E por aí fora. Para von Daniken, talvez, os factos tornam necessário postular extraterrestres. Para outros, estes extraterrestres são pluralidades desnecessárias. Em resumo, talvez a navalha de Occam diga pouco mais do que para os ateístas Deus é desnecessário mas para os teistas isso não é verdade. Se é assim, o principio não é muito util. Por outro lado, se a navalha de Occam significa que quando confrontados com duas explicações, uma implausivel e uma provável, uma pessoa racional deve escolher a provável, então o principio parece desnecessário, pois é óbvio. Mas se o principio é verdadeiramente minimalista, então parece implicar que quanto mais reducionismo, melhor. Se sim, então o principio da parcimónia deveria chamar-se a Serra Eléctrica de Occam, pois o seu principal uso parece ser cortar a eito na ontologia.

Links
Hyman, Arthur and James J. Walsh, Philosophy in the Middle Ages 2nd ed. (Indianapolis: Hackett Publishing Co., 1973).
W.M. Thorburn, "The Myth of Occam's Razor," Mind 27:345-353 (1918).

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Los dinosaurios carnívoros surgieron en lo que ahora es Suramérica

Washington, 10 de diciembre de 2009 (infolatam.com)



Los primeros dinosaurios carnívoros posiblemente surgieron hace más de 230 millones de años en una región de lo que es ahora América del Sur, según un estudio publicado por la revista Science.

En ese momento de la historia remota del planeta, la masa terrestre era una sola llamada Pangea, la cual se separó creándose los actuales continentes.

Las claves de esa teoría las facilitaron los restos fósiles de un nuevo tipo de dinosaurio llamado "Tawa hallae", además de otros ejemplares del período Triásico analizados por científicos del Museo de Historia Natural de Utah, de la Universidad de este estado, de la Universidad de Texas y de la Universidad de Chicago, en Estados Unidos.

En el Triásico, hace entre 250 millones y 201 millones de años, surgieron otros animales, como los cocodrilos, los primeros mamíferos, los pterosauros, las tortugas, los sapos y los lagartos.

Según el informe, el esqueleto fosilizado del "Tawa hallae" revela que el dinosaurio tenía un largo de unos dos metros con una altura de unos 70 centímetros, es decir el tamaño de un perro pero con una cola mucho más larga.

"'Tawa hallae' modifica lo que sabíamos de la relación entre los primeros dinosaurios y proporciona fantástica información sobre cómo evolucionó el esqueleto de los primeros dinosaurios carnívoros", dijo Randall Irmis, del Museo de Historia Natural de Utah.

Los científicos indicaron en el informe sobre su investigación que los primeros dinosaurios surgieron en una zona de Pangea que es ahora Suramérica y que después evolucionaron hasta convertirse en varios tipos de esos animales, incluyendo el Tyrannosaurus rex y los triceratopos, los cuales se dispersaron a través de Pangea.

"Cuando analizamos la relación evolutiva de estos dinosaurios descubrimos que era muy distante y que cada especie tenía parientes muy cercanos en América del Sur", indicó Irmis. "Esto implica que cada especie carnívora de dinosaurios descendió de una línea diferente antes de llegar a la zona de Pangea que es ahora América del Norte, en vez de tener un solo antepasado local", añadió.

Ese desplazamiento de dinosaurios, incluyendo reptiles, llevó a los científicos a determinar que durante la última parte del Triásico no existían grandes barreras geográficas, como cadenas montañosas, que pudieran obstaculizar la migración de algunos de esos animales.


Estudo diz que atmosfera teve origem no exterior do planeta

10/12/2009 - 17h00 (noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/)

Da Efe




Os gases que formaram a atmosfera terrestre, e possivelmente os oceanos, tiveram origem no espaço exterior, e não no interior do planeta, afirma um estudo publicado hoje pela revista "Science".
Isso significa que terão que ser reconsideradas as imagens que mostram enormes vulcões espalhando gases, que depois se transformariam na atmosfera, afirmaram os cientistas Greg Holland, Martin Cassidy e Chris Ballentine, da Universidade de Manchester, no Reino Unido.
Mediante técnicas analíticas avançadas, os pesquisadores descobriram marcas claras de meteoritos nos gases vulcânicos. A partir dessa análise, sabe-se agora que esses gases não contribuíram de maneira importante para a formação da atmosfera.
"Portanto, os elementos que a formaram, assim como os oceanos, devem ter chegado de algum outro lugar, possivelmente do bombardeio de gases e corpos abundantes em água, como os cometas", disse Holland.
Segundo Ballentine, "agora o quadro dos vulcões em erupção terá que ser recomposto" na formação da Terra.

Ardi tinha características humanas?

08 de dezembro de 2009 (www2.uol.com.br/sciam/)


Primata de 4,4 milhões de anos reacende debate sobre o andar ereto e o significado de pertencer à tribo dos humanos

por Katherine Harmon




 Para uma criatura tão pequena, “Ardi” (Ardipithecus ramidus), de 1,2m de altura, provocou grandes polêmicas no mundo da paleoantropologia. Essa descoberta significativa – anunciada 15 anos atrás e formalmente descrita na Science de outubro – aprofundou os debates acadêmicos sobre o surgimento do bipedalismo, a aparência de nosso último ancestral comum com os chimpanzés ede que forma alguns primatas antigos deram origem aos humanos modernos.

“Este é um fóssil fascinante, não importa de que lado se esteja da discussão,” comenta William Jungers, professor e chefe do Departamento de Ciências Anatômicas do Centro Médico da Stony Brook University, localizado em Long Island (NY, EUA). Na verdade, a análise da Science com 11 artigos acentuou ainda mais as diferenças, em vez de atenuá-las.

Os autores dos trabalhos, incluindo Tim White, da University of California, em Berkeley (EUA), propuseram que o Ardipithecus apresentava “um andar ereto eficaz” e que isso “soluciona muitas dúvidas em torno da evolução primitiva da humanidade, incluindo a natureza do último ancestral comum”. Entretanto, muitos outros especialistas da área sugerem que algumas dessas afirmações podem ser grandiloquentes. Para Jungers, “muitas das coisas ditas podem, na verdade, ter somente o propósito de impressionar”.

Assim, Ardi representa um verdadeiro passo em direção à hominização ou deve estar nas ramificações secundárias da árvore evolucionária? White e seus colegas não têm uma resposta definitiva; porém, por meio de análises meticulosas de dados provenientes do fóssil e das áreas próximas, concluem em seu artigo que “aparentemente, não há características únicas o suficiente para certificar a exclusão, de forma definitiva, do Ar. ramidus como ancestral do Australopithecus”. Assim, é proposto que o fóssil pode realmente ser um Hominina primitivo (nomenclatura, sempre em mudança, para o grupo que geralmente compreende os humanos modernos e nossos parentes próximos já extintos; também chamado, por White et al., de hominídeos – embora agora essa última denominação inclua com frequência os grandes primatas).

Porém, ainda mais difícil que reconstituir os ossos delicados e fragmentados do Ardipithecus pode ser a tarefa de situá-lo na história evolucionária da humanidade. E esse processo já se provou controverso.

Em razão de a adaptação para a postura ereta ser o símbolo tradicional dos humanos primitivos, muito do debate sobre o Ardipithecus gira em torno de como se encaixam os ossos de seus membros inferiores – em particular, a posição de seu ílio lesionado (a parte superior da pélvis, parecida com uma asa de borboleta). Dependendo da direção desse osso, há uma diferença de funcionamento dos músculos ao redor das articulações coxofemurais, explica o professor do Departamento de Antropologia da University of Toronto, David Begun.

O resumo de um dos artigos da Science, encabeçado por Owen Lovejoy, da Kent State University, localizada em Ohio (EUA), argumenta que, na época de Ardi, “os músculos glúteos foram reposicionados, de forma que o Ar. ramidus pudesse andar de forma ereta, sem ter que alternar lateralmente seu centro de massa” (ao contrário dos desajeitados grandes primatas modernos). Mas uma interpretação diferente para o ílio poderia mudar toda essa história.

Apesar das numerosas imagens e descrições divulgadas pelos pesquisadores, alguns estão relutantes em aceitar as reconstruções sem desconfiança. De acordo com Begun, “as peças podem até se encaixar perfeitamente, mas o fato é que se tomou como ponto de partida um espécime muito danificado, que resultou em algo muito parecido com um australopitecíneo” (grupo que inclui “Lucy”, o Australopithecus de 3,2 milhões de anos, assim como um Paranthropus de 2,7 milhões de anos). “É muito difícil não deixá-los parecidos com algo que já se tem em mente se houver alguma chance para isto”, conclui. Jungers também ressalta os perigos da reconstrução, a qual, em casos como o de Ardi, “requer muitas suposições”.

Enquanto a pélvis superior se parece com a de um humano primitivo, a parte inferior está mais próxima da de um primata quadrúpede não humano, acrescenta Jungers, que, recentemente, reuniu-se com White e examinou fotografias dos ossos. No entanto, White insiste que, após trabalhar com os fósseis propriamente ditos, não há como afirmar que eles pertençam a “um animal que não andasse apoiado com frequência em seus membros posteriores”, a menos que os dados “sejam deliberadamente ignorados ou que os tenhamos inventado”.

Ainda que a reconstrução do quadril de Ardi não convença a todos, seus pés podem fornecer evidências importantes sobre a locomoção de sua espécie. Em um dos artigos publicados na Science liderados por Lovejoy, o autor observa que “embora a anatomia podal do Ar. ramidus demonstre que a espécie ainda subisse em árvores, no chão andava de forma ereta”. De fato, os pés de Ardi indicam um conforto com a vida em árvores. Seu dedão do pé, referido como “notavelmente primitivo” por Jungers, é bem diferente – ainda mais que os dedões dos chimpanzés modernos –, o que auxiliaria na escalada.

Nenhum dos componentes conhecidos do pé do Ardipithecus, não importando o quão bem adaptado a escaladas estejam, o impede de andar ereto no chão. No entanto, Jungers crê que “não há realmente nenhuma manifestação de adaptação ao bipedalismo”. Na verdade, explica, muitos componentes do Ar. ramidus não o torna mais capaz de andar de forma ereta que os chimpanzés – um primata não reconhecido por White et al. como um modelo para a evolução primitiva humana.

Em um artigo conduzido por Lovejoy, os autores descrevem o Ardipithecus como um “bípede facultativo”: aquele que pode andar com as duas pernas, se assim for primordial (para, por exemplo, carregar algum objeto nos braços), mas não é necessariamente propenso a isto.

“Ironicamente, esta é a descrição de bipedalismo para chimpanzés”, declara Jungers – “eles são bípedes facultativos”. Por outro lado, o Homo eretus, que viveu cerca de 2,6 milhões de anos após Ardi, era bípede obrigatório. E o professor ressalta: “Até os humanos são escaladores facultativos”.

Não importa a maneira como os ossos de Ardi são encaixados ou reencaixados, o debate sobre como a espécie se comportava no chão não deverá se encerrar com análises mais profundas desse espécime. Mesmo com o descobrimento de centenas de ossos, ainda falta uma articulação do joelho. “Acho que essa articulação colocará um ponto final no assunto, de um jeito ou de outro”, prevê Begun. E a descoberta de mais alguns ossos do pé também não faria mal a ninguém, salienta Jungers.

Em vez de continuar o debate evolutivo abaixo do quadril, para Jungers as características mais importantes de Ardi podem estar acima dos seus ombros. “Se quisermos manter Ardi em nosso lado, precisamos abandonar o bipedalismo como a marca essencial para ser um Hominina, em sentido estrito”, escreveu o professor da Stony Brook University em um e-mail enviado a ScientificAmerican.com.

“Caso tivéssemos descobertos somente a parte acima do pescoço dos fósseis, é possível que não considerássemos Ardi um Hominina,” argumenta.

Entretanto, os vários pedaços de crânio encontrados pela equipe de pesquisadores ajudarão a pender o debate a favor do lado dos humanos primitivos. Em uma conversa com White, relata Jungers, o que compeliu aquele pesquisador a considerar Ardi como um passo inicial para a evolução humana foi a evidência dentária – especialmente os caninos superiores, menores e mais parecidos com os dos humanos que dos chimpanzés. Para os autores de um dos estudos publicados na ciência (liderado por White). Os pequenos caninos e a diferença mínima de tamanho entre machos e fêmeas da espécie são “indicativos de mínima agressão social”, escreveu os autores de um dos trabalhos publicados na Science (liderado por White). Se os machos não competiam pelas fêmeas por meio da agressão física, argumentou o coautor Lovejoy, eles poderiam estar mais envolvidos com a criação da prole – um componente-chave para a posterior evolução humana.

O crânio em si também levanta questionamentos acerca da analogia entre Ardi e outros antepassados nossos, como Lucy, por exemplo. Os autores dos artigos da Science ressaltam a pequena porção inferior da face do Ardipithecus, que não é tão proeminente quanto a do chimpanzé e tem um formato mais parecido com a do Australopithecus. Mas pesquisadores que não participaram dos estudos enfatizam a semelhança de tamanho com outros primatas não humanos, como os extintos macacos que viveram na época miocena.

White, no entanto, prefere considerar o espécime como um todo, taxando a análise intencionalmente fragmentada de “completamente hipotética e irreal”. Por e-mail, ele admite que “se só se tivesse achado uma falange intermediária, então não seria possível determinar as relações filogenéticas da espécie”, mas conclui que “as características da dentição, crânio e esqueleto pós-craniano... são todas compartilhadas exclusivamente pelo Ar. ramidus e hominídeos posteriores, excluindo-se, dessa maneira, todos os outros primatas extintos e existentes”. E garante: “mesmo sem o crânio e a dentição, ainda assim essa argumentação se sustentaria, em razão do compartilhamento de traços herdados no quadril e no pé”.

White e seus colaboradores não insistem na postura ereta como o único indicativo de Ardi e seu clado serem de fato humanos primitivos, mas enfatiza que, até agora, essa característica faz parte do contexto. Ele afirma que, embora a sua definição para integrantes da família Hominidae não “se baseie no bipedalismo per se”, a designação “parece consistente tanto com o bipedalismo quanto com a perda do complexo canino-pré-molar ocorrendo perto do momento da separação” entre as linhagens dos humanos e dos chimpanzés.

A muito um mistério evolucionário, o último antepassado em comum compartilhado por humanos e chimpanzés pode ter sido identificado, pelo menos parcialmente, pela descoberta do Ar. ramidus, argumentaram os autores do estudo sobre a espécie (contendo mais de 600 páginas) enviado a Science.

Ardi ajudou a estabelecer alguns debates importantes acerca dessa criatura crucial: por exemplo, se nossos antepassados primitivos andavam sobre seus pés da mesma maneira que os chimpanzés modernos (atualmente, supõe-se que provavelmente não). Mas, como Jungers salientou, já está antiquada a noção que os humanos evoluíram do chimpanzé (ou mesmo de uma criatura parecida com esse animal). Também, observa Begun, seria uma tarefa difícil determinar por meio de Ardi − com 4,4 milhões de anos − um modelo para o último ancestral comum, que viveu há cerca de 6 a 8 milhões de anos. “Do mesmo modo que para Tim [White] é ingênuo assumir” que os chimpanzés não tenham evoluído por milhões de anos, categoriza Begun, também é ingênuo pensar que Ardi conservou várias características de um ancestral comum.

Begun, assim como outros cientistas, estão mais cautelosos em propor uma posição para Ardi na linha humana direta que os pesquisadores envolvidos no projeto. Estes ressaltaram que, apesar de a espécie ser “substancialmente mais primitiva que o Australopithecus” (segundo escritos de um artigo liderado por White), “parece que ela... ocupou um platô basal adaptativo na história natural do hominídeo” (conforme observou outro artigo, desta vez coordenado por Lovejoy).

Embora seja difícil considerar Ardi como um parente próximo, também o é rejeitá-la. “Não acho injusto dizer que, neste momento, a posição filogenética precisa de Ardi é incerta e contestável”, comenta Jungers. Até White observa que “as três maiores possibilidades” são que o Ardipithecus está ou na linha humana, ou na dos chimpanzés ou antecede ambas. Ele explica: “Situamos a espécie no clado dos hominídeos [também conhecido como Hominina] com base em uma série de características evolutivas recentes por ela exclusivamente compartilhadas com todos os outros membros desse clado − os Australopithecus e Homo sapiens”.

Ao analisar os dados apresentados na Science, Begun pouco encontrou “na anatomia desse espécime que levasse diretamente ao Australopithecus, quanto mais ao Homo sapiens”. Ardi “poderia facilmente ser uma ramificação”.

Uma análise mais profunda da posição de Ardi na árvore genética dos primatas e de seu papel para o desenvolvimento do andar ereto pode ter que esperar até que os fósseis originais e suas peças sejam liberados a outros pesquisadores. “Estamos ansiosos para saber onde Ardi se encaixa”, exclama Jungers. O próprio White parece ansioso para que outros possam ver por conta própria a evidência na qual está confiante: “Convidamos esses pesquisadores a vir fazer uma observação comparativa atenta dos fósseis antes de tirarem conclusões sobre algo tão importante quanto o bipedalismo”.

Apesar da impaciência para se ver ao vivo Ardi e os outros espécimes, assim como para se resolver as questões sobre a condição de Hominina da espécie, a maioria dos pesquisadores elogia o importante trabalho envolvendo a escavação e análise dos fósseis. “O que eles fizeram foi incrível”, reconhece Jungers. A ampla documentação sobre o contexto que envolve o Ar. ramidus “estabeleceu um novo padrão”, que, segundo o professor, é “realmente extraordinário”.

Hobbits da Indonésia, ainda mais estranhos

edição 91 - Dezembro 2009 (www2.uol.com.br/sciam/)

Novas análises sugerem ser necessário rever os mais relevantes princípios da evolução humana

por Kate Wong




Em 2004, uma equipe de cientistas australianos e indonésios que escavavam a caverna de Liang Bua, na ilha indonésia de Flores, anunciou ter desenterrado algo extraordinário: parte do esqueleto de uma mulher adulta que teria pouco mais de 1 metro de altura e o cérebro com um terço do tamanho do nosso. O espécime, conhecido pelos cientistas como LB1, logo recebeu um
apelido criativo – hobbit, em homenagem às criaturas ficcionais de J.R.R. Tolkien. A equipe propôs o espécime LB1 e os outros fragmentos recolhidos como representantes de uma espécie humana desconhecida até então, o Homo floresiensis. Sua melhor suposição era que o H. floresiensis descendia do H. erectus – a primeira espécie conhecida a ter colônias fora da África. A criatura evoluiu para esse tamanho pequeno, supõe-se, como resposta aos recursos limitados disponíveis em sua ilha natal – fenômeno já documentado em outros mamíferos, mas jamais em seres humanos.


A descoberta agitou a comunidade paleoantropológica. Não só o H. floresiensis era o primeiro exemplo de um ser humano que seguia a chamada regra insular, como também parecia ter revertido uma tendência no curso da evolução humana em direção a cérebros cada vez maiores. Além disso, os mesmos depósitos em que se encontraram os indivíduos de corpo e cérebro pequenos também revelaram ferramentas de pedra para a caça e a desossa de animais, bem como resquícios de fogueiras para cozê-los – comportamentos bem sofisticados para uma criatura com o cérebro do tamanho do de um chimpanzé. Surpreendentemente, o LB1 viveu há apenas 18 mil anos – milhares de anos após os nossos outros parentes, o homem de Neandertal e o H. erectus, terem desaparecido [ver “O menor dos humanos”, por Kate Wong; Scientific American Brasil, março de 2005].


Os céticos se apressaram em considerar o LB1 como nada além de um homem moderno com uma doença que afetou o seu crescimento. Desde o anúncio da descoberta, propuseram um enorme número de anomalias possíveis para explicar as feições peculiares do espécime: de cretinismo até a síndrome de Laron, doença genética que provoca insensibilidade ao hormônio do crescimento. No entanto, seus argumentos não conseguiram convencer os proponentes do hobbit, que refutaram cada diagnose com evidências contrárias.

Debate sobre Darwin continua 150 anos depois de "Origem"

24/11/09 - 14h55 - Atualizado em 24/11/09 - 14h55 (g1.globo.com)





Da Reuters

Por Tom Heneghan e Julie Mollins

PARIS/LONDRES (Reuters) - Mesmo hoje, 150 anos após sua publicação, "A Origem das Espécies", de Charles Darwin, continua a alimentar choques entre cientistas convencidos da veracidade de suas teses e críticos que rejeitam a visão da vida sem um criador.

O atual "Ano de Darwin" -- assim chamado porque 12 de fevereiro de 2009 foi o bicentenário do nascimento do naturalista britânico e 24 de novembro, o 150o aniversário de seu livro -- foi marcado por uma enxurrada de livros, artigos e conferências debatendo a teoria da evolução, de sua autoria.

Enquanto muitos cobrem terreno que já foi amplamente tratado antes, outros enveredaram por caminhos novos. Mas não há consenso à vista, provavelmente porque a evolução darwiniana é ao mesmo tempo uma teoria científica poderosa que descreve como as formas de vida se desenvolvem através da seleção natural e uma base de filosofias e visões sociais que frequentemente incluem o ateísmo.

"As pessoas estão aceitando e rejeitando a evolução não tanto com base científica, mas como filosofia", disse à Reuters Nick Spencer, diretor do instituto público de estudos sobre teologia Theos, sediado em Londres.

"Hoje os darwinianos mais eloquentes frequentemente associam a evolução ao ateísmo. . à amoralidade e à ideia de que não existe desígnio ou finalidade no universo."

Spencer disse que muitas pessoas aderiram a posições anti-evolucionistas nos EUA e Grã-Bretanha nas últimas décadas "não tanto por rejeitarem a evolução como ciência, embora em muitos casos seja assim que a posição seja apresentada, mas porque a rejeitam como filosofia de vida."

"É perfeitamente possível ser evolucionista e não seguir essa filosofia em relação à vida -- ser evolucionista e ainda assim acreditar em Deus, no desígnio e na finalidade da vida", disse.

DÚVIDAS MUÇULMANAS A RESPEITO DE DARWIN

O criacionismo, a ideia de que Deus criou o mundo conforme é descrito na Bíblia, e a visão do "desígnio inteligente", que postula a existência de um criador a quem não é atribuído nome, costumam ser vinculados a grupos protestantes conservadores nos Estados Unidos.

Uma conferência realizada na semana passada em Alexandria, no Egito, tratou da ampla presença de visões anti-evolucionistas também no mundo muçulmano, onde fiéis citam o relato da criação apresentado no Alcorão -- que é semelhante ao da Bíblia -- para rejeitar o darwinismo como sendo ateu.

O astrofísico argelino Nidhal Guessoum, da Universidade Americana de Sharjah, nos Emirados Árabes Unidos, disse que, segundo pesquisa recente, 62 por cento dos alunos e professores em seu campus disseram que a evolução "não passa de uma teoria não comprovada."

Apenas 10 por cento dos professores universitários não muçulmanos concordaram com essa visão. Guessoum também citou uma pesquisa segundo a qual 80 por cento dos estudantes paquistaneses põem em dúvida a teoria da evolução e muitos professores têm uma visão equivocada da teoria científica.

"Será preciso um esforço longo e sustentado, além de uma abordagem de compaixão" para convencer esses muçulmanos que a evolução não precisa necessariamente desmentir a fé", disse. "'Mais biologia' não melhora a situação, e 'mais ciência' não funciona."
 

Richard Dawkins, um devoto do ateísmo

27/6/2009 - oglobo.globo.com (prosa online)

Enviado por Roberta Jansen




Na esteira do recrudescimento do criacionismo e da propagação das ideias do design inteligente nos Estados Unidos e na Europa, um outro movimento cresceu e apareceu em todo o mundo capitaneado pelo biólogo Richard Dawkins, um dos mais proeminentes evolucionistas da atualidade: o novo ateísmo.

Trata-se de uma defesa ferrenha da ciência e da razão em oposição a toda e qualquer religião, a todo e qualquer deus — e Dawkins é debochado o suficiente para falar em Thor e Apolo. O debate chega por aqui com o próprio Dawkins, um dos grandes nomes da 7 Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que começa na próxima quarta-feira. E, não por acaso, no ano em que se comemoram os 150 anos da publicação de “A origem das espécies”, obra na qual Charles Darwin divulgou para o mundo a Teoria da Evolução — que alteraria para sempre a História ao separar a ciência da religião.

Responsável por campanhas como a que cobriu ônibus em Londres e Nova York de frases como “Deus provavelmente não existe”, Dawkins tem um bate-papo marcado, na próxima quinta-feira, às 19h, com o jornalista Sílio Boccanera sobre o tema “Deus, um delírio” (título de seu livro publicado pela Companhia das Letras em 2007). O debate promete ser polêmico. Ateu praticante e dos mais engajados, o biólogo lança, sem pestanejar, frases como “a Bíblia é um livro horrível”, “acho que muito do mal do mundo tem a ver com a religião” e ainda “acreditar em algo sem evidências é muito pernicioso”.

Nesta entrevista ao GLOBO, concedida de Pirenópolis, em Goiás, onde participa do encontro anual da Sociedade do Comportamento Animal, Dawkins falou sobre seu ateísmo praticante, sobre os últimos acontecimentos no Irã e sobre Darwin e o evolucionismo.

Na Flip, o biólogo lança “A grande história da evolução — Na trilha dos nossos ancestrais” (Companhia das Letras), originalmente lançado em 2004. A obra é uma espécie de enciclopédia da evolução, que parte do homem, passando por todos os seus ancestrais, até chegar à origem da vida. Ao longo da narrativa, Dawkins explica os principais pontos da Teoria da Evolução de Charles Darwin:  


—Tenho me devotado muito ao ateísmo, mas estou de volta à ciência neste livro — conta ele.

Em Paraty, o tema de sua apresentação é “Deus, um delírio”. O que o senhor espera da resposta da audiência no Brasil que, como o senhor sabe, é o maior país católico do mundo e marcado pelo sincretismo com religiões africanas?

RICHARD DAWKINS: Minha experiência nos Estados Unidos é que, embora se trate de um país muito religioso, abriga também muita gente que não tem religião, que é ateia e que vem sendo mal representada, que não tem voz. Um dos efeitos dos meus livros, e de minhas palestras, tem sido dar voz a essas pessoas, fazer com que elas falem. Talvez o mesmo seja verdade para o Brasil, vamos ver.

Desde o lançamento de “Deus, um delírio”, o senhor vem se dedicando à causa do ateísmo. Seu novo livro, a ser lançado mundialmente em setembro, “The greatest show on Earth” (“O maior show da Terra”, em tradução livre), segue a linha de ataque ao criacionismo, ao se dedicar a apresentar provas da Teoria da Evolução. Por que toda essa dedicação?

DAWKINS: “Deus, um delírio” é um ataque às religiões. “The greatest show on Earth” é um ataque ao criacionismo. É verdade que tenho me devotado muito ao ateísmo, mas estou de volta à ciência neste livro. Tanto ele quanto “A grande história da evolução” são livros científicos, sobre evolução, não religião.

Sim, mas o senhor tem se dedicado muito à defesa do ateísmo, com sites e debates. E ao oferecer provas científicas da evolução contribui diretamente para este debate, derrubando argumentos religiosos.

DAWKINS: Sim, tem razão. Isso tem a ver com a busca pela verdade, e sempre me preocupo muito com isso quando posso. Acho que muito do mal do mundo tem a ver com a religião. Acreditar em algo sem evidências é muito pernicioso. 


Alguns de seus críticos dizem que o senhor é tão radical quanto as pessoas que combate. Mesmo alguns evolucionistas dizem que, ao agir desta forma, o senhor estaria dando munição ao inimigo. Como o senhor responde a essas críticas?

DAWKINS: Não acho que haja nada de errado em ser radical em busca da verdade. Eu busco provas científicas. Busco provas para explicar por que o Universo é como é — é isso que me interessa. Algumas dessas acusações podem ser explicadas por questões políticas. Mas não estou interessado em política. Além disso, eu não ofendo pessoas. Quem leu “Deus, um delírio” sabe que é um livro cheio de humor. Bem diferente da Bíblia, que é um livro horrível. Como ateu, gosto de encorajar as pessoas a lerem a Bíblia para verem o quanto é horrível.

Deus nunca teve tanto apelo editorial desde que o senhor, Sam Harris e Christopher Hitchens deram início a sua cruzada pelo ateísmo. O senhor acha isso bom ou ruim?

DAWKINS: É verdade, nossos livros vendem muito bem. Há algo sobre a oposição a Deus que vende muito. E foram publicados pelo menos uns 20 livros que tentam responder ao meu livro. Há uma indústria do lado religioso que foi atiçada pela publicação. Não sei se é bom ou ruim. Acho que todos têm direito de publicar livros, não sei se são bons ou se vendem bem.

Alguns críticos também dizem que o Novo Ateísmo, como é chamado esse movimento, é uma religião. Uma religião sem um Deus formal, mas, ainda assim, uma religião, repleta de ícones.

DAWKINS: Nós não acreditamos em Deus, assim como há gente que não acredita em fadas. Há uma série de coisas em que não acreditamos. Não precisamos criar uma religião para coisas nas quais não acreditamos. Eu também não acredito em Apolo, Thor, ou qualquer outro deus. Acredito na ciência, na racionalidade, numa visão de mundo que manifestamente funcione, que possa ser provada cientificamente. 


“A origem das espécies”, de Charles Darwin, foi lançado em 1859. Desde então, a evolução é aceita como um fato por todos os cientistas. Ainda assim, milhões de pessoas em todo o mundo continuam a questionar sua veracidade. Por quê? O que há de tão poderoso nos argumentos criacionistas e nos partidários do design inteligente?

DAWKINS: A ignorância da população. O que não é um crime. As pessoas, em geral, não sabem nada sobre a evolução. Se olharmos para o sistema educacional na maioria dos países, veremos que é muito ruim. Então as pessoas são contra algo que sequer conhecem.

Por isso o senhor resolveu escrever “The greatest show on Earth”? Para oferecer essas respostas?

DAWKINS: Sim, por isso resolvi escrever sobre as provas da evolução. E o livro é escrito para leigos, de uma forma que me parece bem interessante e divertida.

No livro novo, o senhor explica a importância dos registros fósseis e como a biologia molecular e a genética confirmaram a teoria de Darwin. Mas um dos argumentos preferidos dos fundamentalistas religiosos para atacar a evolução é a origem da vida. Eles argumentam que, até hoje, a ciência não conseguiu reproduzir esse evento. Recentemente, um estudo chegou muito perto disso, ao conseguir criar partes de RNA, mas não ainda à vida propriamente dita. Como o senhor responde a isso em seu novo livro?

DAWKINS: A origem da vida é o ponto de partida, não exatamente a evolução. E não se trata de um fenômeno muito comum. Na verdade, é um fenômeno muito raro, improvável, que aconteceu uma vez em 4 bilhões de anos. Algo que talvez tenha acontecido apenas uma vez em todo o Universo — não sabemos ainda, mas, se o advento da vida fosse tão comum, provavelmente já teríamos descoberto algo ou sido descobertos. É um argumento frequente, mas que eu acho muito bobo. É o Deus das lacunas: quando não conseguem explicar algo, dizem que foi Deus. Ainda assim, continuariam tendo que explicar Deus. 


Grupos humanos em qualquer época ou lugar, em áreas completamente isoladas, sempre apresentam algum tipo de fé no sobrenatural. O senhor acredita que a fé tenha raízes genéticas? Que seja um produto da evolução?

DAWKINS: Sim, acho. Provavelmente não diretamente. Acredito que os seres humanos tenham uma predisposição psicológica para a fé religiosa, e que isso deve ter uma raiz genética. E que as pessoas, sob determinadas condições, desenvolvem as religiões porque, de alguma forma, isso as ajuda a sobreviver.

Nos últimos milhares de anos a religião aparece por trás, direta ou indiretamente, de diversas guerras e atrocidades. Como o senhor situa o que está ocorrendo agora no Irã?

DAWKINS: Meus amigos iranianos acham que o que está ocorrendo agora é sintomático de uma revolta contra o Islã que oprime as mulheres e força as pessoas a viverem numa teocracia. Há inteligência no Irã bem longe de mulás e aiatolás.

Muitos de seus críticos lembram que ateus, em estados seculares, igualmente, já levaram a cabo grandes atrocidades, como alguns regimes comunistas. Será que tais barbaridades seriam ligadas à religião ou apenas à natureza humana?

DAWKINS: Não é apenas a natureza humana. Você provavelmente está pensando em Stalin, que, por sinal, tinha desenvolvido uma espécie de religião ateísta, totalitária, marxista. Mas ele não era motivado pelo ateísmo, o que é bem diferente. As cruzadas foram motivadas pela religião. Os sequestradores do 11 de Setembro foram motivados pela religião. As guerras do Oriente Médio também. Assim como algumas das guerras na Europa, mas não todas, não a Primeira e a Segunda guerras. Há um caminho lógico que leva da fé religiosa a coisas muito ruins, como violência e guerras. E isso é lógico quando aceitamos a premissa de que se está lidando com a vontade de Deus. Para os sequestradores dos aviões do 11 de Setembro isso era bem lógico. Eu não acho que vamos encontrar um caminho lógico do ateísmo para tais atrocidades. 


O que o senhor está fazendo em Pirenópolis?

DAWKINS: Estou participando da conferência anual da Sociedade do Comportamento Animal, que está me homenageando. É o primeiro encontro da sociedade na América Latina. Estou muito honrado com a homenagem e por isso aceitei o convite de vir. E meu editor, gentilmente, me convidou também para Paraty.