terça-feira, 18 de maio de 2010

Darwin podia estar certo sobre efeitos da consanguinidade na saúde de seus filhos

06/05/2010 - 17h12 (http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/)

Por Nicholas Wade
The New York Times



Charles Darwin, o autor da teoria da evolução, podia estar certo ao temer que a saúde de seus filhos fosse afetada pelo cruzamento consanguíneo em sua própria família – especialmente o de sua esposa, Emma Wedgwood, que era sua prima em primeiro grau.

Um cálculo baseado em casamentos de primos de primeiro grau ao longo de quatro gerações das duas dinastias sugere que os filhos de Darwin tinham um leve grau de endocruzamento, medido pela chance de se herdar a mesma versão de um gene de ambos os pais. Possíveis consequências desse cruzamento podem ser vistas nas doenças das crianças e pelo grau de infertilidade, conforme três pesquisadores relatam na atual edição da “BioScience”.

Darwin, após descobrir a falta de vigor em plantas endocruzadas, imaginou que casamentos de primos, como o dele, poderiam trazer efeitos genéticos adversos – e que seus próprios filhos poderiam ser afetados.

Tim M. Berra, um dos autores do novo relatório, é zoólogo da Universidade Estadual de Ohio que possui um profundo interesse em Darwin. Após ler um recente artigo sobre endocruzamento nos Habsburgo, a família real europeia que se endocruzou até quase a extinção, Berra imaginou se Darwin possuía bons motivos para se preocupar. Ele escreveu aos autores do relatório de Hapsburg, Gonzalo Alvarez e Francisco C. Ceballos, da Universidade de Santiago de Compostela, na Espanha, perguntando se eles aplicariam seu programa de computador à linhagem Darwin-Wedgwood.

O grau de endocruzamento entre as crianças de Darwin, mesmo não sendo excessivo, era suficiente para aumentar o risco de doenças recessivas – aquelas que ocorrem se a versão nociva de um gene é herdada de ambos os pais. Três de seus 10 filhos morreram antes de completar 10 anos de idade – dois de doenças bacterianas. A mortalidade infantil por infecções bacterianas é associada ao endocruzamento.

Isso também ocorre com a infertilidade, e três dos filhos de Darwin que ficaram casados por muito tempo não deixaram filhos. Berra e seus colegas concluíram que o medo de Darwin, do efeito da consanguinidade na saúde de seus filhos, “parecia ser justificado”.

O próprio Darwin possuía uma saúde notoriamente frágil, mas sua doença misteriosa, qualquer que fosse, não era relacionada ao endocruzamento, de acordo com os novos cálculos. “A doença de Darwin não tinha nada a ver com consanguinidade”, afirmou Berra.

Os sintomas de Darwin incluíam graves problemas digestivos, e um problema de pele que tornava o barbear tão doloroso que ele acabou deixando crescer uma longa barba.

Diversas autópsias produziram ao menos três diagnósticos para a enfermidade de Darwin. O primeiro relaciona-se à doença de Chagas, uma infecção parasítica disseminada pelo inseto chamado de barbeiro. Darwin se registrou ter sido picado por um em Argentina, em março de 1835. Uma segunda teoria sustenta que ele sofria da doença de Crohn, embora isso deixasse seus sintomas de pele praticamente sem explicação. Uma terceira suposição diz que Darwin sofria do estresse psicossomático de saber que sua teoria da evolução causaria sofrimento – a sua amada esposa e ao povo vitoriano temente a Deus. 
 
© 2010 New York Times News Service

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