segunda-feira, 2 de abril de 2012

Estudo sugere que 'Australopithecus' seja ancestral do homem moderno

08/09/2011 16h58 - Atualizado em 09/09/2011 14h47
http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/






Mão direita de fêmea 'Au. sediba' adulta,
comparada à de um humano (Foto: Peter Schmid /
cortesia de Lee Berger e da Universidade de
Witwatersrand)



Crânio de um jovem 'Au. sediba' (Foto: Brett Eloff /
cortesia de Lee Berger e da Universidade de
Witwatersrand)



Fóssil da pélvis do 'Au. sediba' (Foto: Peter Schmid
/ cortesia de Lee Berger e da Universidade de
Witwatersrand)

Análise da anatomia dos fósseis mostra que hominídeo usava ferramentas.
Acreditava-se que evolução da espécie era paralela à do gênero 'Homo'.

Do G1, com informações da France Presse 

O Australopithecus sediba foi um hominídeo que viveu há cerca de 1,9 milhão de anos, com algumas características de chimpanzé -- se balançava em árvores -- e outras de humanos -- conseguia fabricar ferramentas e andar ereto. Segundo um estudo publicado na edição desta quinta-feira (8) da revista Science, ele "tem o potencial de ser o ancestral que levou ao aparecimento do gênero Homo", do qual nós, humanos modernos, fazemos parte.

Até agora, acreditava-se que o primeiro fabricante de ferramentas tenha sido o Homo habilis. Esta crença se baseava em estudos de 21 ossos de mão fossilizados encontrados na Tanzânia, que datam de 1,75 milhão de anos atrás.

A pesquisa atual faz um exame mais detalhado de dois esqueletos parciais fossilizados de Au. sediba. Eles foram descobertos em 2008 em Malapa, na África do Sul, por Lee Berger, professor da Universidade de Witwatersrand, de Joanesburgo, no mesmo país. Neste sítio foram encontrados mais de 220 ossos de pelo menos cinco indivíduos, entre as quais crianças, jovens e adultos.

Além das mãos, o estudo incluiu o pequeno, porém avançado cérebro do Au. sediba, sua pélvis, que reflete uma postura ereta, e um conjunto único de pé e tornozelo que "combina características dos macacos e dos seres humanos em um único pacote anatômico", segundo Berger, que é o autor principal da pesquisa.

Dedos fortes

Após analisar a mão mais completa encontrada até agora, os especialistas concluíram que o Au. sediba tinha um polegar extralongo e dedos fortes, que teria usado para fabricar ferramentas, demonstraram as descobertas.

Os ossos da mão encontrados pertenciam a uma fêmea adulta, que tinha entre 20 e 30 anos ao morrer. Seus restos foram encontrados perto dos de um macho na infância, cujos ossos fossilizados também foram incluídos no estudo.

"A mão sediba revela uma surpreendente mistura de características que não teríamos previsto que pudessem existir em uma mesma mão", disse uma das cientistas, Tracy Kivell, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva em Leipzig, Alemanha.

"Tem um polegar longo, mas é surpreendente que este polegar seja ainda mais longo do que os que vemos nos humanos modernos", comentou.

"O punho estava mais bem preparado para suportar cargas maiores do que o que poderia durante o uso de ferramentas, por exemplo," e tinha dedos longos e estreitos, "capazes de agarrar com força", acrescentou.
"Esta morfologia nos sugere, assim, que o sediba provavelmente ainda usava suas mãos para subir em árvores", afirmou. "Mas é provável que também fosse capaz de executar as manobras de precisão que acreditamos ser necessárias para fabricar ferramentas de pedra", ponderou Kivell.

Tamanho não é documento

O cérebro do Au. sediba tinha um volume de cerca de 420 cm³, que está muito mais próximo dos 380 cm³ do chimpanzé do que dos 900 cm³ do Homo erectus. Porém, o formato lembra mais o do cérebro humano do que o dos macacos, o que indica que certas partes do sistema nervoso já estavam mais desenvolvidas.
"Estamos bastante seguros em nossa sugestão de que essa é uma evidência de que a reorganização aconteceu antes do aumento do tamanho do crânio", afirmou Kristian Carlson, também da Universidade de Witwatersrand.

"Certamente, nas comparações futuras, será interessante olhar para os primeiros espécimes do gênero Homo para tentar entender mais sobre como essa reconfiguração pode ter continuado e exatamente quão rápida foi o aumento do tamanho do crânio", completou.

Pés para que te quero

Os ossos do pé e do tornozelo de uma fêmea surpreenderam os paleoantropólogos, devido a sua estranha mistura de um arco do pé e um tendão de Aquiles com os dos humanos, e de um calcanhar e uma tíbia como os do macaco.

"Se os ossos não tivessem sido encontrados grudados, a equipe poderia tê-los classificado como pertencentes a espécies diferentes", disse outro dos autores do estudo, Bernard Zipfel, da Universidade de Witwatersrand.

Sem comparação

A análise realizada por uma equipe de 80 cientistas internacionais, detalhada em cinco artigos na Science, oferece novas pistas sobre como pode ter ocorrido a transição do macaco para o ser humano, mas também suscita muitas dúvidas sobre a evolução da espécie humana.

Os cientistas não estão certos se o gênero Homo, que inclui os humanos contemporâneos, evoluiu diretamente do Au. sediba ou se o essa era uma das chamadas espécies "sem saída" e as espécies do gênero Homo evoluíram em separado.

Um dos principais problemas que os paleoantropólogos enfrentam é o pouco que se sabe sobre o esqueleto do Homo habilis, já que há pouco material disponível para comparação.

"O registro fóssil dos primeiros Homo é caótico", disse outro cientista, Steven Churchill, da Universidade de Duke, na Carolina do Norte, Estados Unidos. "Muitos fósseis são duvidosamente atribuídos a várias espécies ou sua datação é muito vaga", explicou.

Mas uma longa lista de todas as características avançadas que o Au. sediba compartilha com outras espécies de Homo, como o Homo habilis e o Homo rudolfensis, "sugere que é um bom ancestral da primeira espécie que todos reconhecem no gênero Homo: o Homo erectus", emendou.

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