quinta-feira, 18 de novembro de 2010

[Livro] Arqueologia Proibida: A História Secreta Da Raça Humana

By Michael A. Cremo and Richard L. Thompson Published by BBT Science Books, 1996. ISBN: 0-89213-294-9.





INTRODUÇÃO


Em 1979, pesquisadores em Laetoli, Tanzania, em um sítio da África Oriental descobriram pegadas em depósitos de cinza vulcânica com idade superior a 3,6 milhões de anos. Mary Leakey e outros disseram que as pegadas eram indistingüíveis das humanas atuais. Para estes cientistas, isso apenas significa que os ancestrais do homem de 3,6 milhões de anos atrás tinham pés incrivelmente modernos.
Mas, de acordo com outros cientistas, como o antropólogo físico R.H. Tuttle da Universidade de Chicago, ossos fósseis dos australopithecos conhecidos de 3,6 milhões de anos atrás demonstram que eles tinham pés que eram claramente próximos dos pés de um macaco. Assim, são incompatíveis com as pegadas de Laetoli. Em um artigo da edição de março de 1990 da revista 'Natural History', Tuttle confessou que "estamos frente a um mistério". Parece admissível, portanto, considerar a possibilidade que nem Tuttle nem Leakey mencionaram - que criaturas com corpos humanos anatomicamente modernos, que combinassem com seus pés humanos anatomicamente modernos, existiram há 3,6 milhões de anos atrás na África Oriental. Talvez, como sugerido na ilustração da página oposta, eles coexistiram com criaturas simiescas. Intrigante como possa parecer essa possibilidade arqueológica, as idéias atuais sobre a evolução humana a proíbem.
Pessoas sensatas irão alertar para a consideração da existência de humanos anatomicamente modernos há milhões de anos com base, simplesmente, nas pegadas de Laetoli. Mas há mais evidências. Durante as últimas décadas, cientistas na África descobriram ossos fósseis que parecem consideravelmente humanos. Em 1965, Bryan Patterson e W. W. Howells acharam um úmero (osso do braço) surpreendentemente moderno em Kanapoi, Kenya. Os cientistas avaliaram sua idade em 4 milhões de anos.
Henry M. McHenry e Robert S. Corruccini, da Universidade da Califórnia, disseram que o úmero de Kanapoi era "dificilmente distingüível do osso de um Homo sapiens atual". Similarmente, Richard Leakey disse que o fêmur ER 1481 do Lago Tukana, Kenya, achado em 1972, era indistingüível do de um humano moderno. Os cientistas normalmente associam o fêmur ER 1481, que tem cerca de 2 milhões de anos, ao pré-humano Homo habilis. Mas, desde que o ER 1481 foi achado isoladamente, não se pode descartar a possibilidade de que o resto do esqueleto fosse, também, anatomicamente moderno. De forma interessante, em 1913 o cientista alemão Hans Reck descobriu, em Olduvai Gorge, Tanzania, um esqueleto humano completo, anatomicamente moderno, em um estrato de mais de um milhão de anos, gerando décadas de controvérsias. Aqui, novamente, alguns nos alertarão para que não exagerarmos o valor de alguns poucos e controversos exemplos em contraste com a grande quantidade de evidências não controversas demonstrando que os humanos atuais evoluíram de criaturas simiescas bastante recentemente - por volta de 100.000 anos para cá, na África, e na visão de alguns, em outras partes do mundo também. Mas acontece que não esgotamos nossas fontes com as pegadas de Laetoli, o úmero de Kanapoi e o fêmur ER 1481. Pelos últimos oito anos, Richard Thompson e eu, com a assistência de nosso pesquisador Stephen Bernath, acumulamos um extenso corpo de evidências que desafia as teorias atuais sobre a evolução humana. Algumas dessas evidências, como as pegadas de Laetoli, são bem recentes. Mas boa parte delas foi registrada por cientistas no século dezenove e começo do século vinte. E, como você pode ver, nossa discussão sobre essas evidências podem constituir um livro muito grande.
Sem mesmo olhar para esse antigo conjunto de evidências, alguns assumirão que deve haver algo errado com ele - que foi convenientemente descartado há muito pelos cientistas, por razões muito boas. Richard e eu checamos bem essa possibilidade. Concluímos, no entanto, que a qualidade dessas evidências controversas não é melhor ou pior que as supostamente não controversas, usualmente citadas em favor das atuais teorias sobre a evolução humana.
Mas "Arqueologia Proibida" é mais do que um bem documentado catálogo de fatos não usuais. É, também, uma crítica sociológica, filosófica e histórica ao método científico, da forma como é aplicado à questão das origens da humanidade. Não somos sociólogos, mas nossa abordagem é similar à praticada pelos adeptos da sociologia do conhecimento científico (SSK), como Steve Woolgar, Trevor Pinch, Michael Mulkay, Harry Collins, Bruno Latour, and Michael Lynch.
Cada um desses estudiosos tem uma perspectiva única da SSK, mas todos provavelmente concordariam com o seguinte enunciado programático. As conclusões dos cientistas não correspondem de forma idêntica aos estados e processos de uma realidade objetiva natural. Ao invés, tais conclusões refletem os reais processos sociais dos cientistas, mais do que o que acontece na natureza/meio ambiente.
A abordagem crítica que fazemos em "Arqueologia Proibida" também assemelha-se à usada pelos filósofos da ciência, como Paul Feyerabend, que afirma que a ciência alcançou uma posição por demais privilegiada no campo intelectual, e por historiadores da ciência, como J. S. Rudwick, que explorou em detalhes a natureza da controvérsia científica. Como Rudwick, em "A Grande Contovérsia Devoniana", usamos a narrativa para apresentarmos nosso material, que engloba não uma mas muitas controvérsias - controvérsias há muito resolvidas, não resolvidas ainda e em formação. Para isso foram feitas muitas citações de fontes primárias e secundárias, e fornecidas descrições detalhadas das reviravoltas dos complexos debates paleoantropológicos. Para os que trabalham com disciplinas relacionadas com as origens da humanidade e antigüidade, "Arqueologia Proibida" provê um bem documentado compêndio de relatórios livres das muitas referências atuais, não facilmente conseguido de outra forma.
Um dos últimos autores a discutir o tipo de relatório achado em "Arqueologia Proibida" foi Marcellin Boule. Em seu livro "Fossil Men" (1957), Boule traz uma conclusão decididamente negativa. Mas, ao examinar os relatórios originais, percebemos que o ceticismo de Boule não é justificado. Em "Arqueologia Proibida", fornecemos material oriundo de fontes primárias que irão permitir aos leitores atuais formarem suas próprias opiniões sobre as evidências que Boule desacreditou. Também introduzimos vários casos que Boule deixou de mencionar.
Das evidências que colhemos, concluímos, algumas vezes em linguagem desprovida do experimentalismo ritual, que as hipóteses atualmente dominantes sobre as origens do homem necessitam de uma drástica revisão. Também concluímos que um processo de filtragem de conhecimentos deixou os estudiosos com uma coleção de fatos radicalmente prejudicada e incompleta.
Antecipamos que muitos estudiosos acharão em "Arqueologia Proibida" um convite a discursos produtivos sobre (1) a natureza e tratamento das evidências no campo das origens do homem e (2) as conclusões que podem ser mais logicamente alcançadas a partir de tais evidências.
No primeiro capítulo da Parte I, pesquisamos a história e o atual estado em que se encontram as idéias sobre a evolução do homem. Também discutimos alguns dos princípios epistemológicos que usamos em nosso estudo nesse campo. Principalmente, estamos interessados em duplo padrão no tratamento das evidências. Identificamos dois principais corpos de evidências. O primeiro é um conjunto controverso (A), que demonstra a existência de humanos anatomicamente modernos no 'não muito confortável' passado distante. O segundo é um conjunto de evidências (B) que pode ser interpretado como comportando as atuais visões dominantes de que o homem evoluiu bem recentemente, de 100.000 anos para cá, na África, e talvez em outros lugares.Também identificamos padrões empregados na avaliação das evidências paleoantropológicas. Depois de um estudo detalhado, descobrimos que se estes padrões forem aplicados igualmente para A e B, então devemos aceitar a ambos ou rejeitar a ambos. Se aceitarmos tanto A quanto B, então temos evidências colocando humanos anatomicamente modernos vivendo há milhões de anos atrás, coexistindo com humanóides simiescos. Se rejeitarmos a ambos, eliminamos a possibilidade de usarmos a base fática disponível para formularmos qualquer hipótese sobre as origens do homem e a antiguidade. Historicamente, um significativo número de cientistas profissionais já aceitou as evidências do grupo A. Mas um grupo mais influente, que aplicou padrões mais rígidos a A do que a B, estabeleceu a rejeição de A e a preservação de B como dominante. Esse uso de padrões diferenciados para a aceitação ou rejeição de evidências constitui um filtro de conhecimentos que obscurece a verdade sobre a evolução humana. No corpo da Parte I (Capítulos 2-6), checamos a vasta quantidade de evidências controversas que contradiz as idéias correntes sobre a evolução do homem. Narramos em detalhes como elas foram sistematicamente suprimidas, ignoradas ou esquecidas, mesmo sendo qualitativamente (e quantitativamente) equivalentes às atualmente aceitas. Quando falamos em supressão de evidências, não nos referimos a cientistas conspiradores levando a cabo um plano satânico para enganar o público.
Ao contrário, falamos sobre a existência de um processo sociológico de filtragem de conhecimento que aparenta ser bem inócuo mas que tem, em verdade, um substancial efeito cumulativo. Certas categorias de evidências simplesmente desapareceram, em nossa opinião injustificadamente.
O Capítulo 2 trata de ossos anormalmente antigos e conchas que exibem marcas e sinais de ruptura intencional. Até hoje, cientistas consideram tais ossos e conchas como uma importante categoria de evidências, e muitos sítios arqueológicos foram estabelecidos com base apenas nesse tipo de achado. Nas décadas posteriores à apresentação da teoria de Darwin, numerosos cientistas descobriram ossos animais quebrados ou com incisões, e conchas sugerindo que humanos que usavam ferramentas ou precursores dos humanos existiram no Pliosceno (2-5 milhões de anos atrás), no Miosceno (5-25 milhões de anos atrás), e até antes. Ao analisar os ossos e conchas, os descobridores cuidadosamente consideraram e estabeleceram explicações alternativas - como a ação de animais ou pressão geológica - antes de concluir que os humanos eram os responsáveis. Em alguns casos, ferramentas de pedra foram achadas juntamente com os ossos e conchas. Um exemplo particularmente impressionante nesta categoria é um concha exibindo uma rude, porém reconhecível, face humana esculpida em sua superfície externa. Registrada pelo ologista H. Stopes à Associação Britânica para o Avanço da Ciência em 1881, essa concha, de uma formação rochosa do Pliosceno, na Inglaterra, tem mais de 2 milhões de anos.
De acordo com os padrões aceitos, humanos capazes de tal nível de artifício não chegaram à Europa antes de 30.000 ou 40.000 antos atrás. Além disso, eles nem mesmo surgiram em seu berço, a África, antes de 100.000 anos atrás. Em relação às evidências do tipo reportado por Stopes, Armand de Quatrefages escreveu em seu livro "Hommes Fossiles et Hommes Sauvages" (1884): "As objeções feitas à existência do homem no Pliosceno e Miosceno parecem ser habitualmente mais relacionadas a considerações teóricas do que à observação direta".
As mais rudimentares ferramentas de pedra, as eoliths ("as pedras da aurora") são o assunto do Capítulo 3. Esses instrumentos achados em contextos geológicos inesperadamente antigos, inspiraram prolongados debates no final do século dezenove e começo do século vinte.
Para alguns, as eoliths não eram sempre facilmente reconhecíveis como ferramentas. As eoliths não tinham forma simétrica. Ao contrário, a borda de uma lasca de pedra natural era quebrada para fazê-la servir para uma determinada tarefa, como raspar, cortar ou talhar. Freqüentemente a ponta ostentava sinais do uso. Os críticos disseram que as eoliths resultaram de eventos naturais, como o rolar no fundo de rios. Mas os defensores da outra tese ofereceram contra-argumentos convincentes no sentido de que as forças naturais não poderiam causar o gasto similar ao conseguido na pedra lascada - unidirecional em apenas um lado da pedra. No final do século dezenove, Benjamin Harrison, um arqueologista amador, descobriu eoliths no Platô de Kent, no sudeste da Inglaterra. Evidências geológicas sugerem que as eoliths foram produzidas em meados ou no final do Ploisceno, por volta de 2 a 4 milhões de anos atrás. Entre os que apoiavam a tese decorrente da descoberta de Harrison estavam Alfred Russell Wallace, co-fundador com Darwin da teoria da evolução pela seleção natural; Sir John Prestwich, um dos mais eminentes geologistas ingleses; e Ray E. Lankester, um diretor do Museu Britânico (História Natural). Embora Harrison tenha descoberto a maior parte de suas eoliths em depósitos superficiais de cascalho do Pliosceno, ele também descobriu muitas em níveis mais abaixo, durante uma escavação financiada e dirigida pela Associação Britânica para o Avanço da Ciência. Além das eoliths, Harrison achou, em vários lugares no Platô de Kent, ferramentas de pedra mais avançadas (paleoliths) de antigüidade plioscênica similar.
No começo do século vinte, J. Reid Moir, um membro do Instituto Real de Antropologia e presidente da Sociedade de Pré-História da Anglia Oriental, descobriu eoliths (e ferramentas de pedra mais avançadas) na formação inglesa de Red Crag. As ferramentas tinham por volta de 2 a 2,5 milhões de anos. Algumas das ferramentas de Moir foram achadas nos leitos de detritos de Red Crag e poderiam ter entre 2,5 e 5,5 milhões de anos.


Os achados de Moir ganharam o apoio de um dos maiores críticos das eoliths, Henri Breuil, então considerado como uma das mais proeminentes autoridades em ferramentas de pedra antigas.
Outro patrocinador foi o paleontologista Henry Fairfield Osborn, do Museu Americano de História Natural de Nova Iorque. E, em 1923, uma comissão internacional de cientistas viajou até a Inglaterra para investigar as principais descobertas de Moir e as consideraram genuínas. Mas, em 1939, A. S. Barnes publicou um artigo de muita influência, no qual analisava as eoliths descobertas por Moir e outras em termos do ângulo de quebra observado. Barnes afirmava que seu método podia distinguir entre o processo de lascar feito por humanos do produzido por forças naturais. Desde então, os cientistas têm usado o método de Barnes para negar a manufatura por homens de outras ferramentas de pedra. Mas, em anos recentes, autoridades em ferramentas de pedra, como George F. Carter, Leland W. Patterson e A. L. Bryan têm contestado a metodologia de Barnes e sua aplicação. Isso sugere a necessidade de reexame das eoliths européias. Significativamente, ferramentas de pedra muito antigas, da África, como aquelas dos níveis mais baixos de Olduvai Gorge, aparentam serem idênticas às eoliths européias rejeitadas. Ainda assim, são aceitas pela comunidade científica sem questionamentos. Isso se dá, provavelmente, porque elas se encaixam e ajudam a apoiar a teoria da evolução do homem atualmente aceita.


Mas outras manufaturas eolíticas de antigüidade inesperada continuam a encontrar forte oposição. Por exemplo, na década de 1950, Louis Leakey descobriu ferramentas de pedra de mais de 200.000 anos em Calico, nos sul da Califórnia. De acordo com a visão padrão, os humanos não penetraram nas regiões subárticas do Novo Mundo antes de aproximadamente 12.000 anos atrás. Os cientistas acabaram por responder à descoberta de Calico, previsivelmente, afirmando que, ou eram produto das forças naturais, ou não tinham realmente 200.000 anos. Mas há razões suficientes para se concluir que as descobertas de Calico são artefatos de produção genuinamente humana. Embora a maior parte das ferramentas fossem rudes, algumas, inclusive uma em forma de bico, eram mais avançadas.

No Capítulo 4, discutimos uma categoria de implementos que chamamos de paleoliths rudes. No caso das eoliths, a parte lascada localiza-se perfeitamente na borda trabalhada de um pedaço de pedra naturalmente quebrada. Mas os fabricantes dos paleoliths rudes deliberadamente golpearam as rochas, lascando, então, os pedaços até alcançar formas reconhecíveis como ferramentas. Em alguns casos, rochas inteiras foram lascadas até formarem ferramentas. Como vimos, as paleoliths brutas são encontradas juntamente com as eoliths. Mas, nos sítios discutidos no Capítulo 4, as paleoliths são dominantes no conjunto. Na categoria das paleoliths brutas, incluímos ferramentas do Miosceno (5 a 25 milhões de anos) achadas no final do século dezenove por Carlos Ribeiro, chefe do Instituto de Pesquisa Geológica de Portugal. Em uma conferência internacional de arqueologistas e antropologistas, em Portugal, um comitê de cientistas investigou um dos sítios onde Ribeiro havia achado as ferramentas. Um dos cientistas achou um peça de pedra mais avançada que os melhores espécimes de Ribeiro. Comparável às peças aceitas como do final do Pleistoceno, do tipo Mousterian, estava firmemente encravada em conglomerado do Miosceno, em circunstâncias tais que confirmavam sua antigüidade mioscênica. Paleoliths brutas também foram achadas em formações mioscênicas em Thenay, França. S. Laing, um escritor de ciências inglês, escreveu: "Em seu conjunto, a evidência desses implementos do Miosceno parece ser bastante conclusiva, e as objeções parecem não se situarem de outra forma a não ser como simples relutância em admitir a grande antigüidade do homem".

O texto prossegue enumerando evidências da manipulação, por parte do establishment, das convicções dos homens acerca de sua própria história.


Download do Livro Completo (inclusve com as ilustrações e fotos):


http://www.4shared.com/document/hs_8lSqc/a_histria_secreta_da_raa_human.html

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Estudo diz que Ardi, de 4,4 milhões de anos, não é ancestral do homem

28/05/2010-06h00 (http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/)

REINALDO JOSÉ LOPES
de São Paulo

 


Querem destronar Ardi. A fêmea primata de 4,4 milhões de anos virou ícone da espécie Ardipithecus ramidus, um dos mais antigos ancestrais do homem. Mas não passaria de uma reles macaca, acusa um novo estudo.

Ironicamente, o "rebaixamento" da espécie de Ardi está sendo proposto nas páginas da prestigiosa revista especializada "Science", a mesma que alçou a suposta fêmea de hominídeo (ancestral humano) à categoria de descoberta do ano em 2009.

O esqueleto quase completo da criatura, bem como hipóteses detalhadas sobre sua locomoção e até sua vida sexual, foram descritos em 11 artigos científicos no dia 2 de outubro do ano passado.

Ardi e seus companheiros de espécie estariam entre os primeiros primatas a comprovadamente caminhar com duas pernas, tal como o homem. É o que argumentava a equipe liderada por Tim White, da Universidade da Califórnia em Berkeley (Costa Oeste dos EUA).

Besteira, declarou à Folha Esteban Sarmiento, primatologista da Fundação Evolução Humana, em Nova Jersey. "O Ardipithecus é um quadrúpede palmígrado [ou seja, apoiava-se nas plantas das quatro patas], e não um bípede. Aliás, é muito difícil dizer se o fóssil [Ardi] era um macho ou uma fêmea."

Mais importante ainda: o animal seria, na verdade, um grande macaco africano primitivo, talvez anterior à separação entre as linhagens de humanos e chimpanzés.

INTERPRETAÇÃO

Até certo ponto, problemas de interpretação são naturais quando se trata de um fóssil como esse. Embora fragmentos de outros indivíduos da espécie já tenham sido achados, Ardi é, de longe, a mais importante fonte para entender o A. ramidus, por causa de seu esqueleto relativamente completo.

Ocorre, porém, que os milhões de anos de preservação distorceram vários dos ossos do bicho, em especial os da pelve (quadril), importantes justamente no debate "dois pés versus quatro patas".

Além disso, a idade remota, próxima do momento estimado para a separação evolutiva entre as linhagens do homem e do chimpanzé, também é fonte de confusão. Isso porque, em tese, quanto mais perto dessa divergência, mais difícil fica dizer quem é pré-humano e quem é apenas macaco.

Sarmiento aponta que White e companhia teriam errado feio na interpretação dos detalhes mais significativos do esqueleto. Em resumo, ele diz que traços dos dentes, da pelve e dos membros da espécie lembram mais os dos grandes macacos mais antigos, com uns 10 milhões de anos.

O problema é que esses bichos mais primitivos só foram encontrados até agora na Europa e na Ásia. Há uma lacuna no registro deixado pelos fósseis na África, tanto que até agora ninguém reconheceu oficialmente a descoberta de um protochimpanzé ou protogorila.

Sarmiento aposta que a "mania" de achar apenas hominídeos na África, com idade de 7 milhões de anos para cima, pode ser explicada por um viés dos cientistas: ninguém quer afirmar que achou "apenas" um ancestral dos chimpanzés ou dos gorilas, critica ele.

CONTRA OU A FAVOR

Paleoantropólogos ouvidos pela Folha disseram que a crítica tem fundamento.

"Embora o Dr. White e seus colegas tenham descoberto um fóssil fabuloso de grande macaco, tentaram forçar a mão e transformá-lo num hominídeo, coisa para a qual não há base nenhuma", diz o americano Lee Berger, da Universidade do Witwatersrand (África do Sul).

"Creio que esse é só o primeiro de uma avalanche de artigos. Apesar da força considerável de personalidade do Dr. White, nem ele é capaz de forçar a área a aceitar o A. ramidus como hominídeo."

John Hawks, da Universidade de Wisconsin em Madison, também diz esperar mais publicações criticando a descrição de Ardi.

"Sarmiento argumentou corretamente em vários pontos. Por exemplo, várias comparações recentes do genoma do homem e de primatas mostraram que o ancestral comum de chimpanzés e humanos viveu em torno de 4 milhões de anos atrás", diz.

"Ardi e outros supostos hominídeos, portanto, seriam velhos demais para serem ancestrais do homem. Muitos paleontólogos preferem ignorar os dados genéticos, mas não acho que seja tão simples assim."

Em resposta na própria "Science", White e colegas se defendem. Afirmam ter feito a lição de casa exigida por Sarmiento, ao "comparar detalhadamente" a espécie de Ardi com os grandes macacos mais antigos.

Também lembram que, apesar da descrição recente de Ardi, outros exemplares da espécie tinham sido revelados ao público desde os anos 1990. "Nesses 15 anos, o status do Ardipithecus como hominídeo foi amplamente aceito" pela comunidade científica, afirmam eles.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Desenvolvimento de penas em dinossauros era diferente do que em aves modernas

19 de maio de 2010 (www2.uol.com.br/sciam/noticias/)

por Katherine Harmon
 
Plumagem antiga era mais diversificada e produzida por processos mais complexos

 
Um raro fóssil de dois jovens terópodes emplumados revelou que esses animais tinham muito mais penas do que as aves modernas adultas.

Os pesquisadores liderados por Xing Xu, do Instituto de Paleontologia de Vertebrados e Paleoantropologia da Academia Chinesa de Ciências em Pequim, descreveram os espécimes de dinossauros como do gênero Similicaudipteryx do Cretáceo Inferior. Os fósseis foram encontrados no oeste da província de Liaoning, na China. Os dois pequenos oviraptorosaurus foram preservados em diferentes estágios de desenvolvimento e mostraram tipos de penas distintas, com um padrão muito maior do que é visto nas várias fases de maturação das aves modernas.

"Essa descoberta sugere que as penas originais eram mais diversificadas do que as modernas, e algumas características de desenvolvimento e dos morfotipos resultantes foram perdidas na evolução”, segundo os pesquisadores em seu estudo, publicado online na revista Nature (Scientific American faz parte do Nature Publishing Group).

O menor dos dois espécimes (conhecido como STM4-1) é um terço menor que o Similicaudipteryx mais velho (referido como STM22-6). Tinha pequenas penas de vôo rasante no antebraço e muito mais penas na cauda, além de plumas cobrindo o resto do seu corpo. O maior dos dois, o STM22-6, também tinha muitas penas, mas permaneciam em maior abundância em seu antebraço e em sua cauda, “possivelmente refletindo um aumento do papel funcional das penas, como a aproximação da idade adulta do individuo”, sugerem os autores. Também tinham penas longas em torno de suas cabeças e pelves.

Esse padrão complexo de desenvolvimento de pena "não é conhecido nos pássaros modernos", concluíram Xu e seus colegas, apesar do fato de que os dinossauros serem antepassados dos pássaros modernos. A equipe especula que, ao contrário da expressão precoce dos genes que iniciam o crescimento da maturidade da penas em aves jovens de hoje, a ativação de genes semelhantes no jovem Similicaudipteryx "era provavelmente atrasada e incompleta", produzindo o estado curioso e diversificado do crescimento das penas observados nos dois dinossauros.

Fóssil australiano mostra que Tiranossauro era global

10 de maio de 2010 (www2.uol.com.br/sciam/noticias/)

por Katherine Harmon

Osso de quadril descoberto na Austrália muda enfoque de cientistas 


Ossos de Tiranossauro são relativamente comuns nos continentes do norte, surgindo em toda parte do Colorado a China. Mas, até agora, pareciam estranhamente ausentes na parte sul do planeta. A descoberta de um osso do quadril de um Tiranossauro em Victoria, Austrália, pode mudar a maneira como os cientistas pensam sobre a distribuição e evolução desse grupo de dinossauros.

“A ausência de Tiranossauro nos continentes do sul estava se cada vez mais em descompasso com representantes de outros grupos do norte”, disse Paul Barrett, do Departamento de Paleontologia do Museu de História Natural de Londres e coautor do novo estudo.

O fóssil do quadril tem 30 cm de comprimento. "O osso é inequivocamente de um tiranossauro, pois esses dinossauros tinham os ossos do quadril muito distintos de outras espécies", afirmou o principal autor do estudo, Roger Benson, do Departamento de Ciências da Terra da University of Cambridge.

Supondo com base no tamanho do osso encontrado, os pesquisadores estimam que o novo tiranossauro tenha sido da altura de uma pessoa, medindo cerca de três metros de comprimento e pesando cerca de 80 kg. O animal viveu no período Cretáceo, quando os membros da família ainda eram pequenos em comparação com o grande Tyrannosaurus rex.

Esse dinossauro, ainda sem nome, que viveu a cerca de 110 milhões de anos atrás, aproximadamente 40 milhões de anos antes de seu parente reverenciado, o T. rex. Nessa época, os continentes do sul (Austrália, África, América do Sul e Antártida) ainda estavam ligados uns aos outros, o que indica aos pesquisadores uma “possibilidade de que outros fósseis possam ser descobertos na África, América do Sul e Índia”, disse Barrett. A descoberta do fóssil foi detalhada on-line na revista Science.

Por que esse grupo de dinossauros parece ser tão pequeno e escasso no hemisfério sul, enquanto alguns Tiranossauros mais recentes eram predadores enormes e dominantes no hemisfério norte? "É difícil explicar por que diferentes grupos foram bem sucedidos no norte e no sul, se existiam originalmente em ambos os lugares", disse Benson. "Nós só poderemos responder essas perguntas com novas descobertas."

terça-feira, 18 de maio de 2010

Darwin podia estar certo sobre efeitos da consanguinidade na saúde de seus filhos

06/05/2010 - 17h12 (http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/)

Por Nicholas Wade
The New York Times



Charles Darwin, o autor da teoria da evolução, podia estar certo ao temer que a saúde de seus filhos fosse afetada pelo cruzamento consanguíneo em sua própria família – especialmente o de sua esposa, Emma Wedgwood, que era sua prima em primeiro grau.

Um cálculo baseado em casamentos de primos de primeiro grau ao longo de quatro gerações das duas dinastias sugere que os filhos de Darwin tinham um leve grau de endocruzamento, medido pela chance de se herdar a mesma versão de um gene de ambos os pais. Possíveis consequências desse cruzamento podem ser vistas nas doenças das crianças e pelo grau de infertilidade, conforme três pesquisadores relatam na atual edição da “BioScience”.

Darwin, após descobrir a falta de vigor em plantas endocruzadas, imaginou que casamentos de primos, como o dele, poderiam trazer efeitos genéticos adversos – e que seus próprios filhos poderiam ser afetados.

Tim M. Berra, um dos autores do novo relatório, é zoólogo da Universidade Estadual de Ohio que possui um profundo interesse em Darwin. Após ler um recente artigo sobre endocruzamento nos Habsburgo, a família real europeia que se endocruzou até quase a extinção, Berra imaginou se Darwin possuía bons motivos para se preocupar. Ele escreveu aos autores do relatório de Hapsburg, Gonzalo Alvarez e Francisco C. Ceballos, da Universidade de Santiago de Compostela, na Espanha, perguntando se eles aplicariam seu programa de computador à linhagem Darwin-Wedgwood.

O grau de endocruzamento entre as crianças de Darwin, mesmo não sendo excessivo, era suficiente para aumentar o risco de doenças recessivas – aquelas que ocorrem se a versão nociva de um gene é herdada de ambos os pais. Três de seus 10 filhos morreram antes de completar 10 anos de idade – dois de doenças bacterianas. A mortalidade infantil por infecções bacterianas é associada ao endocruzamento.

Isso também ocorre com a infertilidade, e três dos filhos de Darwin que ficaram casados por muito tempo não deixaram filhos. Berra e seus colegas concluíram que o medo de Darwin, do efeito da consanguinidade na saúde de seus filhos, “parecia ser justificado”.

O próprio Darwin possuía uma saúde notoriamente frágil, mas sua doença misteriosa, qualquer que fosse, não era relacionada ao endocruzamento, de acordo com os novos cálculos. “A doença de Darwin não tinha nada a ver com consanguinidade”, afirmou Berra.

Os sintomas de Darwin incluíam graves problemas digestivos, e um problema de pele que tornava o barbear tão doloroso que ele acabou deixando crescer uma longa barba.

Diversas autópsias produziram ao menos três diagnósticos para a enfermidade de Darwin. O primeiro relaciona-se à doença de Chagas, uma infecção parasítica disseminada pelo inseto chamado de barbeiro. Darwin se registrou ter sido picado por um em Argentina, em março de 1835. Uma segunda teoria sustenta que ele sofria da doença de Crohn, embora isso deixasse seus sintomas de pele praticamente sem explicação. Uma terceira suposição diz que Darwin sofria do estresse psicossomático de saber que sua teoria da evolução causaria sofrimento – a sua amada esposa e ao povo vitoriano temente a Deus. 
 
© 2010 New York Times News Service

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Livro de Marcelo Gleiser tenta tirar resquícios de religião da ciência

14/04/2010 20h31 - Atualizado em 15/04/2010 06h34 (g1.globo.com/ciencia-e-saude/)





'Criação imperfeita' desmistifica a ideia de que há ordem sob o Universo.
Físico brasileiro defende que devemos celebrar as imperfeições da natureza.
 
Iberê Thenório Do G1, em São Paulo 
 
Uma das cenas mais marcantes do cinema é momento em que o personagem Neo, no filme Matrix, começa a entender as regras que regem o Universo e passa a ver o mundo como um punhado de números e letras que interagem entre si.

Desde a Grécia Antiga, cientistas e filósofos vêm buscando algo parecido com isso: uma regra básica que possa explicar o funcionamento de tudo. Nessa jornada, já foram descobertos os átomos e a Via Láctea, mas nunca se chegou a uma resposta racional sobre a razão de ser do Universo.

Para um dos maiores nomes da ciência brasileira, o físico Marcelo Gleiser, deve-se parar de procurar essa fórmula secreta, que ele chama de "código oculto da natureza" ou "teoria final".

Em seu novo livro, "Criação Imperfeita", Gleiser argumenta que a crença de pesquisadores de que exista algum sentido oculto no Universo é uma contaminação da religião sobre a ciência, um ato de fé incompatível com a racionalidade.

Ele afirma que a natureza tem nos mostrado o contrário: suas leis são complexas, seus elementos são irregulares, assimétricos, e a vida na forma como conhecemos só surgiu devido a uma série de acontecimentos cósmicos que culminaram em um planeta habitável, com água no estado líquido e uma atmosfera protetora das radiações mortais que circulam pelo espaço. "Eu quero mostrar ao leitor que esse mito de que o mundo é perfeito, de que a natureza é uma obra divina, tem que cair", afirmou o autor em entrevista ao G1.


Para chegar a essa conclusão, Gleiser viaja pela história da astronomia e mostra desde experiências de Nicolau Copérnico – que derrubou a ideia de que a Terra era o centro do Universo – até a noção de matéria escura – um tipo especial de matéria invisível responsável pelo movimento das galáxias.

"Sentido" da vida
Apesar de arrasar a ideia de que exista um sentido oculto no Universo, Gleiser propõe um "sentido" para a vida baseado na descrença, na ideia de que a beleza está na imperfeição.

Analisando uma série de probabilidades, o físico argumenta que a vida é algo muito raro em um ambiente cósmico extremamente hostil. Exatamente por isso nossa existência deveria ser valorizada. Também por isso, Gleiser diz que o homem deveria dar mais valor ao seu planeta, até agora o único oásis de vida conhecido pela ciência.

Confira, abaixo, alguns trechos da conversa que o G1 teve por telefone com Marcelo Gleiser:

G1 - O que é o tal "código oculto da natureza", usado no subtítulo do seu livro?

Marcelo Gleiser - É a noção de que existe um segredo por trás das coisas. Há várias buscas pelo código secreto da natureza. Você pode falar disso de uma forma religiosa, científica, filosófica. No caso da ciência, seria você acreditar, primeiro, que existe uma espécie de fórmula secreta que consegue explicar tudo o que existe no mundo, do mais simples ao mais complexo. Segundo, é preciso acreditar que a gente seja capaz de alcançar esse conhecimento. São dois atos de fé bastante intensos.

G1 - O livro se chama "Criação imperfeita", mas ao longo da obra são dados vários exemplos de dogmas religiosos (como o de que a terra é seria centro do Universo) que foram vencidos por descobertas científicas. Por que usar o termo "Criação"?

Marcelo Gleiser - É um modo de trazer a atenção do leitor para o fato de que eu estou falando sobre o que existe no mundo. Eu penso em Criação, com "C" maiúsculo, no sentido que as pessoas religiosas têm por obra de Deus, tudo o que existe no Universo. Talvez seja um pouco de sarcasmo chamar Criação – o que é uma coisa que por definição é perfeita, sendo obra de Deus – de imperfeita. Mas a ideia é justamente essa. Eu quero mostrar ao leitor que esse mito que a gente tem de que o mundo é perfeito, de que a natureza é uma obra divina, tem que cair.

G1 - Em certo momento, você diz que tememos a assimetria (na ciência, na estética etc.) porque ela revelaria a ausência de Deus. No final do livro, você defende a beleza da assimetria. Indiretamente, é uma defesa da ausência de Deus?

Marcelo Gleiser - Exatamente. A gente não gosta da assimetria porque, se a natureza é assimétrica, como a gente pode justificá-la sendo uma obra de Deus? Esse é um argumento que teologicamente é meio simplista, mas tudo bem. Eu não sou teólogo. A ideia aqui é mostrar que é só olhar para o mundo que a gente vê que o mundo, de perfeito, não tem nada. A natureza, a diversidade toda que existe no mundo desde a física das partículas elementares até o fato de que o rosto humano ser assimétrico, e por isso é mais belo, para mim isso é que é importante. É um livro bastante iconoclasta, nesse sentido. Eu estou propondo um jeito diferente de pensar sobre a natureza e sobre o nosso lugar no mundo.

G1 - A procura pela "teoria final" sempre foi uma boa motivação para novas descobertas. Desistir disso não vai "esfriar" a busca por conhecimento nas áreas mais fronteiriças da ciência? Marcelo Gleiser - Pode-se continuar buscando. Eu não tenho nada contra procurar por teorias unificadas que tentam descrever como as várias forças da natureza podem se comportar de uma maneira única a altas energias. O problema é achar que existe uma explicação final das coisas, que existe uma "teoria final". Isso para mim é mais religião do que ciência. 

Análise parcial de genoma confirma cruzamento entre homem moderno e Neandertal

06/05/2010 - 16h06 (noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/)

Da Redação
 


Estudo publicado na edição desta semana da revista “Science” indica que os homens modernos tiveram relações sexuais com Neandertais. O trabalho traz a análise parcial do genoma de nossos primos evolutivos, que inclui mais de 3 bilhões de nucleotídeos (o que representa cerca de dois terços do genoma).

O material foi extraído de ossos de três espécimes do sexo feminino que viveram na Croácia há 38 mil anos.

Ao comparar o genoma parcialmente completo dos Neandertais com o dos humanos, os pesquisadores descobriram que europeus e asiáticos compartilham de 1% a 4% do seu DNA nuclear com seus primos evolutivos.

O estudo sugere que os homens modernos cruzaram com os Neandertais após deixar a África e antes de se espalhar pela Eurásia, ou seja, no Oriente Médio. Isso deve ter ocorrido há aproximadamente 80 mil anos. Por isso, seres da nossa espécie herdaram uma pequena fração de DNA desses parentes extintos. Segundo o autor do estudo, o cientista Svante Pääbo, do Instituto Mak Planck de Leipzig, na Alemanha, os Neandertais ainda “vivem em alguns de nós”.

Chimpanzés têm consciência da morte, sugere estudo


26/04/2010 - 17h28 (noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/)





WASHINGTON, 26 abril 2010 (AFP) - Os chimpanzés, primos mais próximos do homem na escala evolutiva, parecem muito conscientes da morte, assim como os humanos, segundo um estudo baseado em observações publicado nesta segunda-feira (26).

"Vários fenômenos foram considerados em um ou outro momento separando o homem das outras espécies, como a capacidade de raciocinar, de falar ou de utilizar ferramentas e a consciência de si mesmo, antes de a ciência demonstrar que essas divisões são, na realidade, mais relativas", explicou James Anderson, da Universidade de Sitling do Reino Unido, principal autor de um dos estudos publicados nesta segunda-feira na revista americana Current Biology, na edição datada de 27 de abril.

"A consciência da morte é um desses fenômenos psicológicos atribuídos durante um longo tempo somente aos humanos", afirmou o pesquisador.

Mas "as observações que temos feito em chimpanzés relacionando a perda de seu par e nos últimos momentos de vida, indicam que têm muita consciência da morte e, provavelmente, de maneira muito mais desenvolvida do que se suspeitava", acrescentou.

O estudo descreve as últimas horas e a morte de uma chimpanzé fêmea de idade avançada, que vivia em um pequeno grupo de primatas numa reserva na Escócia. Todos esses momentos foram filmados.

Nos dias que precederam a morte da fêmea, o grupo esteve muito silencioso e com a atenção concentrada nela, afirmou James Anderson. Muito pouco tempo antes de morrer, seus companheiros fizeram muito carinho e a enfeitaram.

Esses gestos nos últimos instantes buscavam determinar se ela ainda estava com vida. Quando chegou a morte, o grupo se afastou do corpo, mas pouco depois, a que seria sua filha mais velha voltou para permanecer próxima à fêmea morta durante toda a noite, afirmam os pesquisadores. Em um segundo estudo, os autores observaram duas mães de chimpanzés que vivem livres, que continuaram carregando o corpo mumificado de seus filhotes durante semanas, após a morte deles em consequência de uma infecção respiratória.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Livro escorrega em tentativa de explicar evolução da religião

19/04/2010 - 06h00 (www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/)

REINALDO JOSÉ LOPES
da Reportagem Local


Estava mais do que na hora de usar a lupa da psicologia evolutiva para elucidar as origens da religião. A fé, afinal, é um prato apropriado para o cardápio dos que tentam explicar a mente com base na teoria evolutiva. Ela parece ser um universal humano, ou seja, aquele tipo de comportamento presente em qualquer sociedade, no tempo e no espaço. E, se é um traço universal, provavelmente foi favorecido e mantido pela seleção natural. O raciocínio funciona. Mas o livro "The Faith Instinct" vai com sede demais a esse pote.

Que o leitor não entenda mal. A obra do britânico Nicholas Wade, jornalista de ciência do "New York Times", consegue alinhavar de forma clara as principais pesquisas sobre a origem do "instinto da fé" do título. O problema é que esse tipo de estudo ainda está engatinhando e, na ânsia de apresentar um cenário evolutivo "vencedor", que deixe claro por que a religião surgiu, Wade passa por cima das explicações alternativas, das nuances e do que não se encaixa em sua visão pré-fabricada do tema. O resultado são generalizações um bocado especulativas, que o autor martela capítulo após capítulo, na esperança de que o leitor acabe por aceitá-las.

Sacolejo

Conforme argumenta Wade, quando o comportamento humano moderno surge (entre 50 mil e 100 mil anos atrás), as manifestações religiosas parecem vir a reboque. As primeiras formas de arte e de ferramentas complexas aparecem lado a lado com coisas como funerais deliberados, incluindo "oferendas" (adornos e ossos de animais), e pinturas que retratam misteriosos seres metade pessoas e metade animais. Seriam indícios de uma crença no pós-vida e na capacidade mística de transitar entre os reinos humano, animal e espiritual, como ainda fazem os xamãs dos povos tradicionais de hoje.

São justamente esses povos, em especial os aborígines australianos e os san (ou bosquímanos) do sul da África, que inspiram o autor a dar seu passo seguinte. Como os rituais das tribos modernas de caçadores-coletores estão fortemente ligados a danças comunais, nas quais todo o grupo participa durante horas a fio, com resultados como transes e visões místicas, Wade propõe que a "religião ancestral" da humanidade era esse tipo de dança.

Aliás, para ele, música, dança, linguagem e religião teriam evoluído juntas, formando um complexo de comportamentos cuja principal função era garantir a coesão social de cada grupo, para que fosse possível superar outras tribos em combate. Os transes gerados pela dança exaustiva levariam à crença nas entidades sobrenaturais "vistas" durante o êxtase e, de quebra, produziriam um forte senso de união entre os participantes do sacolejo. Os grupos mais afinados com essa propensão ao transcendente teriam obtido uma considerável vantagem reprodutiva e de sobrevivência em relação às tribos menos extáticas, até a religião se propagar pela espécie.

A reconstrução da "religião dançarina" original até faz sentido diante dos (poucos) indícios disponíveis, mas Wade entra em terreno dúbio quando aposta, juntamente com uma minoria de biólogos evolutivos, que a seleção natural poderia atuar no nível de grupos, e não no de indivíduos, como diz a maior parte dos cientistas hoje.

O problema aqui é que grupos humanos em especial tribos em guerra, como no cenário traçado pelo livro não se reproduzem em bloco, mas como indivíduos. Supostas tendências genéticas "religiosas", que levariam ao sacrifício em batalha em nome do "bem maior", seriam simplesmente perdidas com a morte de seus possuidores. Desse ponto de vista, a seleção natural seria implacável contra os religiosos, e não a favor deles. De fato, os grupos com maior proporção de religiosos poderiam até obter mais sucesso na competição com outras tribos. Mas, paradoxalmente, as chances de multiplicação do "gene da fé" seriam muito baixas.

A rigor, seria perfeitamente possível traçar uma análise evolutiva com base nesse princípio: a religião, enquanto "unidade" cultural, é que estaria sendo selecionada nos confrontos, e não os corpos e genes de seus fiéis. Contudo, ao adotar um paradigma muito rígido, Wade nem chega a mencionar essa possibilidade.

Ele também quase não toma conhecimento da outra grande vertente das pesquisas sobre a evolução da religiosidade, que encara a crença no sobrenatural como um subproduto de outras capacidades mentais humanas as quais, essas sim, teriam sido moldadas pela seleção natural, tais como a propensão para detectar outras mentes no mundo circundante.

A análise que Wade faz da transformação das religiões no mundo pós-Idade da Pedra também é questionável. Ele associa, por exemplo, o "fim da dança" (ou seja, dos rituais comunais e igualitários dos caçadores-coletores) com o surgimento da agricultura e da desigualdade social. Nesse ponto, a ascensão de castas sacerdotais teria levado à monopolização do sagrado. O autor esquece, porém, que sociedades com considerável grau de hierarquização e complexidade, como a grega antiga, eram um bocado relaxadas quanto ao ofício sacerdotal _sem escrituras sagradas, rituais de ordenação ou mesmo monopólio dos sacrifícios de animais. Apesar de tudo, a conclusão do livro talvez tenha alguma permanência: um apelo para que as religiões saibam incorporar o que a ciência descobriu sobre a natureza e a evolução do homem em suas próprias narrativas do sagrado.


Colisor faz 10 milhões de mini-Big Bangs em 1 semana

08/04/2010 - 10h17 (www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/)

ROBERT EVANS
da Reuters, em Genebra (Suíça)
 
Os físicos do centro de pesquisas europeu Cern disseram nesta quarta-feira (7) que foram produzidos 10 milhões de mini-Big Bangs na primeira semana de operações.  
 
 
 

Suas colisões de partículas ocorrem a uma altíssima potência, em uma maratona investigativa sobre os segredos do cosmos. O porta-voz James Gillies afirmou que o Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês), no qual minúsculas partículas de matéria são esmagadas em frações de segundo à velocidade da luz, estava funcionando extremamente bem.

"Tudo parece muito bom. Estamos obtendo um grande número de dados para analistas de laboratórios de todo o mundo, mesmo que levem meses ou anos para que surja algo de fato novo", afirmou Gillies.

Autoridades do Cern, o Centro Europeu para Pesquisas Nucleares, estão ávidas para superar as duas primeiras semanas de funcionamento em alta potência.

Em 2008, um lançamento anterior do LHC, a uma potência menor teve de ser paralisado por causa de um grande vazamento de uma solução de resfriamento depois de 10 dias.

O LHC possui um anel de 27 quilômetros, situado sob a fronteira entre Suíça e França, perto de Genebra.

 
Colisões

Os cientistas que o observam disseram que se registram agora cem colisões por segundo, o dobro da quantidade observada no primeiro dia de atividade em alta potência na semana passada.

Os feixes de partículas primeiro foram injetados para dentro do LHC e então colidiram a uma energia inédita de 7 tera -- ou 7 trilhões -- de eletronvolts (TeV) no dia 30 de março, no que os cientistas afirmam ter sido um avanço gigantesco na pesquisa sobre o cosmos.

As colisões criam simulações numa escala minúscula do Big Bang, a explosão primária ocorrida há 13,7 bilhões de anos da qual teria surgido todo o cosmos -- com suas galáxias, estrelas, planetas e enfim a vida, assim como as leis universais da física. 
 
Ao rastrear como as partículas se comportam após colidirem, os pesquisadores do Cern esperam desvendar segredos do cosmos tais como a formação da matéria escura, ou invisível, por que a matéria ganhou massa e se há mais dimensões além das quatro que já conhecemos.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Cientistas identificam possível novo ancestral do homem na África do Sul

08/04/2010 - 15h06
 

Jonathan Amos
da BBC News 
 
 
Um cientista da universidade de Witwatersrand, na África do Sul, anunciou ter descoberto fósseis de duas criaturas hominídeas com mais de dois milhões de anos, que poderiam ser o elo entre espécies mais antigas e as mais modernas, do gênero Homo, entre as quais está a de pessoas atuais.

Lee Berger afirmou à BBC que a descoberta, nas cavernas de Malapa, perto de Joanesburgo, foi feita por acaso em 2008, quando ele e o filho de 9 anos passeavam no local, identificado como um potencial sítio arqueológico graças a uma aplicativo do Patrimônio Histórico Mundial acoplado ao programa Google Earth.

A descoberta do Australopithecus sediba foi publicada na última edição da revista científica "Science", e os cientistas que assinam o artigo dizem que os esqueletos preenchem uma brecha importante no desenvolvimento das espécies hominídeas.

"Eles estão no ponto em que acontece a transição de um primata que anda sobre duas pernas para, efetivamente, nós", disse Berger.

"Acho que provavelmente todos estão conscientes de que este período, entre 1,8 milhão a 2 milhões de anos atrás, é um dos mais mal representados em toda a história fóssil dos hominídeos. Estamos falando de um registro muito pequeno, um fragmento."

Sepultamento rápido

Muitos cientistas veem os australopitecos como ancestrais diretos do Homo, mas a localização exata do A. sediba na árvore genealógica humana vem causando polêmica. Alguns acreditam que os fósseis podem ter sido da espécie Homo.

O que se sabe é que as criaturas de Malapa viveram às vésperas do domínio da espécie Homo. Inclusive, alguns esqueletos encontrados na África Oriental atribuídas a espécies de Homo seriam até um pouco mais antigos que as novas descobertas.

Mas o A. sediba apresenta uma mistura de detalhes e características como dentes pequenos, nariz proeminente, pélvis muito avançada e pernas longas semelhantes às que temos atualmente.

No entanto, a espécie tinha braços muito longos e um crânio pequeno que lembra o das espécies Australopithecus, muito mais antigas, à qual Berger e seus colegas associaram a descoberta.

Os ossos foram encontrados a cerca de um metro uns dos outros, o que indicaria que eles morreram na mesma época ou pouco tempo depois do outro.

Os especialistas dizem que os fósseis podem até ser de mãe e filho e que é razoável presumir que pertenciam ao mesmo bando.

Não se sabe se eles moravam no complexo de cavernas em Malapa ou se acabaram presos por ali, depois que ter sido arrastados para um lago ou piscina subterrâneos, talvez durante uma tempestade.

Os ossos dos dois espécimes foram depositados perto de outros animais mortos, entre eles um tigre dente-de-sabre, um antílope, ratos e coelhos. O fato de nenhum dos corpos ter sinais de ter sido comido por outros animais indica que morreram e foram sepultados repentinamente.

"Achamos que deve ter havido algum tipo de calamidade na época que tenha reunido todos esses fósseis na caverna, onde ficaram presos e, finalmente, sepultados", afirmou o professor Paul Dirks, da universidade James Cook, na Austrália.

Todos os ossos ficaram preservados em sedimentos clásticos calcificados que se formam no fundo de poças d'água. 

sexta-feira, 26 de março de 2010

Estudo revela que os T-Rex também povoaram Hemisfério Sul

25/03/10 - 17h22 - Atualizado em 25/03/10 - 17h22 (g1.globo.com/Noticias/Ciencia/)
 

Ossos de um pequeno antepassado do animal foram achados na Austrália. Até agora, fósseis do tiranossauro só haviam aparecido no Norte.
 
 
Da EFE


Os enormes Tiranossauros Rex (T-Rex) também percorreram os continentes do Hemisfério Sul, confirmou um estudo realizado por cientistas ingleses e australianos divulgado hoje pela revista "Science".

A descoberta de um osso de quadril de 30 centímetros de um pequeno antepassado do animal encontrado em uma caverna de Victoria (Austrália) descarta a crença de que só existiram no Hemisfério Norte, apontaram os cientistas da Universidade de Cambridge e da Universidade de Melbourne.

Segundo Roger Benson, do Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Cambridge, o osso "é certamente identificável" como o de um tiranossauro porque esse tipo de dinossauro tem ossos do quadril que são únicos.

"Trata-se de uma importante descoberta, pois os fósseis dos tiranossuros só haviam sido encontrados no Hemisfério Norte. Alguns cientistas pensavam que nunca tinham chegado até o Sul", acrescentou.

Benson acrescentou que, embora exista apenas um osso "este demonstra que há 110 milhões de anos havia tiranossauros pequenos como o nosso em qualquer parte do mundo".


80 quilos

De acordo com as análises do fóssil, o osso foi de um animal que media cerca de três metros de comprimento e pesava aproximadamente 80 quilos com cabeça grande e os braços pequenos que caracterizam os T-Rex. O "pequeno" tiranossauro, identificado como NMV P186069, viveu há cerca de 110 milhões de anos.

Os grandes Tiranossauros Rex, que mediam mais de 12 metros de comprimento e pesavam cerca de quatro toneladas, viveram há aproximadamente 70 milhões de anos, no final do período Cretáceo.

De acordo com Paul Barrett, paleontólogo do Museu de História Natural de Londres, a ausência dos tiranossauros nos continentes do sul parecia ser um fato anômalo.

Barrett explicou que os fósseis de outros tipos de dinossauros considerados típicos do norte já começaram a aparecer nos continentes do sul.

"Essa descoberta demonstra que os tiranossauros puderam chegar a essas regiões nos primeiros períodos de sua história evolutiva e também sugere a possibilidade de que se descubram seus restos na África, América do Sul e Índia", acrescentou.

No entanto, os cientistas admitem que a descoberta ainda deixa uma incógnita: por que esses pequenos tiranossauros evoluíram para se transformar nos enormes T-Rex somente no Hemisfério Norte?

Cientistas identificam possível novo ancestral do homem na Sibéria

24/03/2010 - 20h29 (noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/)

Paul Reynolds
Da BBC News 
 

Cientistas alemães identificaram o que pode ser um novo ancestral do homem a partir da análise genética de ossos encontrados em uma caverna na Sibéria, segundo um estudo publicado na edição desta quarta-feira da revista científica Nature.

O fóssil, encontrado na caverna Denisova, nas montanhas Altai, em 2008, seria de um dedo da mão de um hominídeo de cerca de seis anos que viveu na Ásia Central entre 30 mil e 48 mil anos atrás.

Os cientistas do Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionária de Leipzig, na Alamanha, fizeram uma análise do DNA mitocondrial do fóssil e compararam com o código genético de humanos modernos e do homem de Neandertal.

Os resultados sugerem que o material corresponde a uma migração procedente da África desconhecida até agora e distinta das protagonizadas a partir do continente africano pelos antepassados do homem de Neandertal e dos humanos modernos.

O DNA não é o mesmo dos seres humanos ou neandertais, duas espécies que viveram na área na mesma época. Testes sugerem que o DNA do fóssil siberiano pertence a uma nova espécie, não sendo igual ao de outros hominídeos conhecidos.

O material genético encontrado no fóssil seria muito novo para ser descendente do Homo erectus, que partiu da África em direção à Ásia há cerca de 2 milhões de anos, ou muito antigo para descender do Homo heidelbergensis, que teria se originado há cerca de 650 mil anos.

"Quem quer que tenha carregado esse genoma mitocondrial para fora da África há cerca de um milhão de anos é alguma criatura nova que ainda não havia aparecido no nosso radar", disse o professor Svante Paabo, coautor do estudo, ao lado do cientista Johannes Krause.

A pesquisa contribui para um cenário mais complexo da humanidade durante o final do período Pleistoceno, quando os humanos modernos deixaram a África para colonizar o restante do mundo.

Já é conhecido que os humanos podem ter vivido simultaneamente com os Neandertais na Europa, aparentemente por mais de 10 mil anos. Mas em 2004, pesquisadores descobriram que uma espécie anã dos humanos, conhecida como “Hobbit”, viveu na ilha das Flores, na Indonésia, até 12 mil anos atrás – muito tempo depois de os humanos modernos terem colonizado a área.
Convivência

A pesquisa contribui para um cenário mais complexo do período Pleistoceno, quando os humanos modernos saíram da África para colonizar o restante do mundo.

O professor Clive Finlayson, diretor do Museu Gibraltar, já disse que havia “uma série de populações humanas espalhadas por partes da África, Eurásia e Oceania”.

“Alguns teriam sido geneticamente relacionados, se comportando como subespécies, enquanto outras populações mais extremas podem ter se comportado como espécies com nenhum ou pouco cruzamento híbrido”, disse.

Neandertais aparentemente viveram na caverna Okladnikov, nas montanhas Altai, há cerca de 40 mil anos. Uma equipe de pesquisadores liderada pelo professor Anatoli Derevianko, da Academia Russa de Ciências, também encontrou provas da presença de humanos modernos que viveram na região no mesmo período.

“Outra questão intrigante é se pode ter havido convivência e interação não apenas entre Neandertais e humanos modernos na Ásia, mas também, agora, entre essas linhagens e a recém descoberta”, afirmou o professor Chris Stringer, pesquisador de origens humanas do Museu de História Natural de Londres.

“A distinção entre os padrões do DNA mitocondrial sugere, até agora, que houve pouco ou nenhum cruzamento entre espécies, mas serão necessárias mais dados de outras partes do genoma dos fósseis para que se chegue a conclusões definitivas”, afirmou.

Segundo ele, o estudo é “um desenvolvimento instigante”.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Smithsonian inaugura ala sobre evolução humana que custou US$ 21 mi

17 de março de 2010 | 16h 00 (estadao.com.br/noticias)

Ala tem 285 fósseis e artefatos, incluindo o único esqueleto Neandertal dos Estados Unidos

 
WASHINGTON - O Museu de História Natural Smithsonian, localizado em Washington, nos EUA, inaugurou nesta quarta-feira, 17, uma ala permanente que exibe a evolução humana no período de 6 milhões de anos.

Com um custo aproximado de US$ 21 milhões, o Ala da Origem Humana terá 285 fósseis e artefatos, incluindo o único esqueleto Neandertal dos Estados Unidos. O curador responsável pela nova ala, Rick Potts, diz que a exposição exibe as principais etapas do desenvolvimento do ser humano.

Grande parte do fundo utilizado na construção da nova ala do museu foi doado pelo bilionário David H. Koch, vice-presidente executivo da companhia de energia elétrica Koch Industries Inc.

O Museu de História Natural Smithsonian atrai 7,4 milhões de visitantes por ano, o que o faz o mais visitado nos Estados Unidos.
 
 

Futura Evolução Humana: Eugenia no século XXI

por John Glad

A versão resumida do original deste livro em inglês pode ser baixada gratuitamente de
http://whatwemaybe.org

Introdução
“Estou com vocês, homens e mulheres de uma geração
ou todas as demais gerações a contar deste momento”.
WaltWhitman, “Crossing Brooklyn Ferry”
A Grande Guerra e a Depressão subsequente minaram a mentalidade do Império e os privilégios de classe, deixando um vácuo preenchido por um clima intelectual que proclamava a igualdade de todos os seres humanos, não simplesmente como princípio ético, mas como fato biológico. A sociedade ocidental do século XX passou a ser dominada por uma ideologia nova e unificada. Freudianismo, Marxismo, Behaviorismo de B.H. Skinner, história cultural de Franz Boaz e antropologia de Margaret Mead enfatizavam a maravilhosa "plasticidade" e mesmo a "capacidade de programação" do Homo sapiens. Repetidamente era explicado que a mente humana pouco difere em suas qualidades inatas, e que apenas a educação e a cultura explicam as diferenças entre nós. O software é tudo; o hardware é idêntico e, portanto, insignificante. O caminho para a utopia repousa apenas sobre o aprendizado melhorado.
No último terço do século XX, mesmo enquanto os cientistas promoviam ativamente a teoria da evolução, eles evitavam, em grande margem, o tópico da evolução da humanidade atual e futura. É notável que essa premissa tácita da estase tenha coincidido com a revolução em nossa compreensão da genética como processo em andamento. Agora essa censura foi levantada e mesmo os adversários mais implacáveis das variações significativas na genética humana admitemque o antigo diálogo darwinista foi retomado.
Os temas em questão mostram-se tão repletos de consequências emtodos os níveis que, mesmo pequeno como é o grupo de pessoas preocupadas com a futura composição genética da humanidade, uma única fagulha ideológica nessa área tem o poder de detonar uma conflagração total e absoluta, de forma que a hostilidade com frequência elimina a discussão racional. Mas, não importa quanto a sociedade fica incomodada com esses temas, eles de fato estão diante de nós, exigindo pelo menos reconhecimento, senão solução. Neste livro, eu procuro apresentar os fundamentos científicos e éticos do intervencionismo genético.
Por mais que nós humanos nos orgulhemos de nossas realizações, pouco nos aproximamos da resolução das grandes questões da existência do que quando morávamos em cavernas. O prolongamento do tempo infinitamente para trás ou para a frente é tão inimaginável quanto é o tempo ter início ou fim. Psicologicamente, porém, precisamos de um mapa - um conceito de existência e de nosso lugar no universo – e, deste modo, nos ocupamos emelaborar mitos para preencher o vácuo que achamos tão intolerável. Para ser duradoura, uma visão do mundo precisa primeiro nos explicar o universo e, depois, aliviar nossos medos e satisfazer nossos desejos. A lógica não é um prerrequisito. O mito pode até se contradizer - sem contar que pode estar emdesacordo como mundo real.
Independentemente de quando ou onde vivemos, inevitavelmente percebemo-nos como o Império do Centro ou o Médio Império e, sorrimos condescendentemente aos mitos elaborados por outras culturas, ou guerreamos com eles para submetê-los a nossa (unicamente correta) visão de mundo. E se somos melhores na arte das armas, geralmente somos capazes de persuadir aqueles que dominamos fisicamente da superioridade de nossos mitos sobre os deles.
Até meados do século XIX, o mundo ocidental aceitou a interpretação literal do Livro de Gênesis, mas, em seguida, a teoria da evolução apresentou explicação radicalmente diferente sobre as origens do homem. Tentando reconciliar religião e ciência, a sociedade forjou uma nova mitologia que, sem surpresas, é cheia de contradições. Eis algumas delas:
a) Enquanto outras espécies de animais e plantas podem sofrer mudanças significativas em algumas gerações, nós afirmamos que milhares de gerações, sob condições radicalmente diferentes de seleção e de relacionamentos seletivos, têm deixado apenas mudanças genéticas muito superficiais em nossa espécie.
b) Os intelectuais (embora não o homem comum) estavam firmemente convencidos de que somos produto da evolução, mas estavam igualmente arraigados na estranha suposição de que os seres humanos são a única espécie que não é mais afetada por esse processo.
c) Mesmo que a sociedade premie capacidades ou sagacidades em praticamente qualquer forma de atividade, tornou-se moderno afirmar que esses fatores não desempenham nenhum papel na formação das classes sociais, tidas inteiramente como resultado de sorte e privilégio. De fato, os estudiosos que dominam o mercado editorial e a academia negaram a própria existência da variação inata do QI nas populações humanas.
d) Apareceu um imenso setor de testes acadêmicos, mas seus achados foram amplamente declarados como sendo somente aproximados, mas carentes de qualquer tipo de validação.
e) Com a transição para famílias menores, os cientistas têm observado que geração após geração dos intelectualmente favorecidos estão deixando de se substituírem – exatamente como era temido pelos primeiros eugenistas – no entanto, a sociedade aceitou o fenômeno como natural.
f) Estamos nos tornando cada vez mais bem-sucedidos na implementação de um processo chamado de “medicina” para a eliminação da seleção natural, mas continuamos alegremente indiferentes à ameaça existencial que esses sucessos de curto prazo representam para as futuras gerações.
g) Trabalhando com afinco na decifração do mapa do genoma humano, continuamos a aplicar critérios morais para comportamentos, que logo se tornariam explicáveis cientificamente.
h) Como em todas as outras espécies animais, enquanto nossa conduta social esteve necessariamente centralizada em rituais de acasalamento, nossa percepção desse processo permaneceu dominada por uma miríade de tabus camufladores e fetiches.
i) Criamos uma sociedade de castas genéticas que coopta talentos nascidos nas classes menos favorecidas, exploramos e manipulamos com eficiência essas castas, enquanto, ao mesmo tempo, proclamamos a igualdade de oportunidades como nosso slogan.
j) A igualdade de oportunidades foi proclamada como a grande meta da sociedade, mas uma das causas principais do desequilíbrio das oportunidades – a diferença da dotação genética entre as pessoas - estava fora de cogitação como alvo da engenharia social.
k) Libertando-nos (muito temporariamente) das amarras da seleção natural e das limitações dos recursos naturais, nós nos recusamos a reconhecer que nos tornamos a espécie que perfeitamente se encaixa na definição de doença, causando estragos a nós mesmos e a nossas espécies irmãs numa agressão maciça ao hospedeiro que parasitamos – o planeta. Mas, quem quer se ver nesse papel?
l) Criamos uma economia insustentável, dependente da exaustão dos recursos, no entanto, proclamamos níveis ainda maiores de consumo como a meta da sociedade.
m) Defendemos a liberdade de expressão, ao mesmo tempo em que denunciamos impiedosamente qualquer opinião na área da genética humana considerada ofensiva por qualquer segmento significativo da sociedade.
Dessa forma, a revolução na tecnologia foi acompanhada, não pela eliminação do mito, mas pela criação de novos mitos equivalentes à negação da biologia. O dar e receber do processo político foi determinado necessariamente pelo poder relativo dos participantes, de modo que as gerações futuras não foram levadas em consideração na tomada de decisões.
Apesar da opinião popular e dos preconceitos, é impossível fugir dos fatos da ciência. Enquanto você lê esta frase, a humanidade terá evoluído geneticamente. Há espécies como a do peixe celacanto que – incrivelmente – sobrevivem há mais de 400 milhões de anos, mas eles são a exceção rara. O Homo sapiens é um elo recente na cadeia evolutiva, e as condições que norteiam a seleção desta população passaram por transformações revolucionárias ao longo do século passado.
Finalmente, temos que decidir o grau de satisfação que sentimos enquanto espécie. Este é o grande divisor de águas, separando aqueles a favor da intervenção genética dos que se opõem a ela. Independentemente de nossas atitudes pessoais, não há como negar que enquanto a loteria genética produziu de fato muitos vencedores, há muitos menos afortunados.
O movimento eugênico, que pode ser entendido como ecologia humana, há muito considera-se como um lobby para as futuras gerações, argumentando que, embora seja verdade que não deveríamos ser presunçosos em nossa capacidade de prever o futuro, podemos definir o que queremos – bebês inteligentes e saudáveis que crescerão para se tornar adultos emocionalmente equilibrados e amplamente altruístas.
Ora, quando a maioria das pessoas vive muito além de sua idade reprodutiva, não são aqueles que sobreviveramao terrível processo da seleção natural que habitarão o planeta no futuro, mas aqueles que têm a  maior prole. Agora temos seleção pela fertilidade emvez de pela mortalidade – uma mudança revolucionária.
No plano teórico, hoje – finalmente – concordamos que igualdade de oportunidades é um objetivo desejável. Ao mesmo tempo, porém, nos encontramos presos a um etos social que insiste que não apenas deveríamos gozar de direitos iguais, mas também que somos praticamente idênticos, diferindo apenas na criação.
Compassiva e alegremente, cada um de nós é um indivíduo único, e essa singularidade se estende aos grupos étnicos e nacionais que constituímos. Não somos máquinas idênticas com softwares diferentes. Sem exceção, todos os grupos étnicos produziram tanto vencedores como perdedores na loteria genética. Os intervencionistas argumentamque é nossa obrigação moral fazer o máximo para transmitir aos nossos filhos – não a mesma herança – mas a melhor, a única herança possível para cada um deles. Os anti-intervencionistas mostram que, ao quebrar o bastão precioso passado de geração a geração, podemos facilmente produzir um desastre irreparável. Porém, não tomar decisão tambémé uma decisão.
Muitas de nossas decisões cotidianas estão repletas de consequências genéticas. Quem está tendo bebês, e quantos? Tudo que influencia a fertilidade é um fator na nova seleção. Isso pode incluir um passeio à farmácia mais próxima para comprar dispositivos contraceptivos, a ida a uma clínica de aborto ou a decisão de reduzir ou mesmo renunciar à procriação em prol de avanços na carreira e na formação. Ao negar creches gratuitas e apoio financeiro infantil para todos, exceto as populações carentes, o governo incentiva alguns grupos e desestimula outros a procriar e esta política já se tornou tambémumfator grave na seleção genética.
Os eugenistas argumentam que devemos reconhecer nosso lugar no mundo físico – como criaturas biológicas. Para sobreviver como espécie com maior significado filosófico do que os outros animais, eles acreditam que, na área da reprodução, temos que subordinar nossos interesses àqueles das gerações futuras e começar a controlar nossas populações de acordo com princípios incontestáveis aplicados às outras espécies. Em resumo, eles apoiam substituir a seleção natural pela seleção científica. Nas palavras de Sir Francis Galton, o “pai” da eugenia e da estatística: O que a natureza faz cega, lenta e impiedosamente, o homem pode fazer prudente, rápida e cuidadosamente. Como está em seu poder, torna-se seu deve trabalhar nessa direção.
Este é um livro sobre o sentido da vida, da inteligência e do nosso lugar no universo. Baseia-se em uma filosofia racional de vida e de amor por nossas crianças, na consciência dos fardos e responsabilidades da paternidade. É expresso em um espírito de amizade igualitária, para homens e mulheres preocupados e de  boa vontade – os proponentes e os oponentes do movimento eugênico. Esperançosamente, muitos deles compartilharão os mesmos valores, esperanças e medos. Se nada mais, deveríamos concordar com o direito de discordar.
Repleto de história, valores e emoções, o movimento eugênico vê a si próprio fundamentado na ciência, mas não está limitado a ela. Aqui, tentarei ligar algumas áreas do conhecimento numa abordagem sincrética. Peço a compreensão do leitor na apresentação dessas áreas, que podem parecer discrepantes, porém, qualquer visão de mundo séria e de amplo espectro é necessariamente eclética.
A humanidade penetrou nos primeiros estágios da revolução no conhecimento geral dos mecanismos genéticos, novas biotecnologias e na explicação científica de áreas da saúde humana e comportamentos previamente analisados sob o prisma moral. O espírito do iluminismo não pode ser devolvido à lâmpada da ignorância. A perspectiva de, em poucos anos, ter nas mãos o esboço humano completo é impressionante, e devemos assumir que as futuras descobertas no campo da genética nos darão capacidades que nem  podemos imaginar agora. A seleção de embriões para se obter os genes desejáveis, a engenharia genética na linha germinativa e a clonagem de crianças geneticamente idênticas a partir de células cultivadas se tornarão possíveis nos próximos dez a quinze anos. As discordâncias entre o que é atribuído à natureza e o que é à educação parecerão estranhas, e teremos que nos perguntar como espécie o que fazer depois, como  alcançar, se não a utopia, pelo menos algo mais perto disso do o que temos agora ou, no mínimo, como sobreviver.
Adeptos da eugenia veem sua causa como parte da luta pelos direitos humanos – os direitos daqueles que virão depois de nós. Como Martin Luther King, eles argumentam, podemos bem imaginar se jamais alcançaremos a Terra Prometida. Talvez não haja um objetivo final, apenas a busca, porém, devemos a nossos filhos iniciar a jornada, fazer o melhor para assegurar que eles nasçam melhores pessoas do que somos, e que eles herdemmais nossas boas qualidades e menos nossas imperfeições.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Aprender a cozinhar nos tornou homens, diz antropólogo em livro que contesta Darwin

17/03/2010 - 21h59 (http://www1.folha.uol.com.br/folha/livrariadafolha/)

da Livraria da Folha
 
 
Considerado um dos dez melhores livros de 2009 por especialistas do "New York Times" e "Economist", "Pegando Fogo" (Jorge Zahar) propõe uma tese retumbante e desafiadora: a de que os homens só passaram a se diferenciar dos antepassados primatas quando começaram a cozinhar.

Para defender esse ponto de vista, o antropólogo biológico norte-americano Richard Wrangham obtém informações retiradas de assuntos diversos, como a teoria da evolução, a divisão de tarefas entre os sexos, a culinária e até mesmos temas como dietas e emagrecimento. Para o autor, ao contrário do que disse Darwin, passamos a cozinhar antes de nos tornar homens.

Essa "hipótese do cozimento" afirma que um antepassado imediato do homo sapiens, o homo erectus, dominou o fogo e o cozimento há cerca de 1,8 milhão de anos, permitindo que tivéssemos acesso tanto a nutrientes quanto a hábitos que nos mudariam para sempre.

Para ilustrar o tema, histórias de sobreviventes na selva e no mar, do cotidiano alimentar de esquimós e índios brasileiros, além da experiência do próprio autor, que entrou no território selvagem dos chimpanzés para viver com eles e, sobretudo, comer exatamente o que eles comem.